VOZES FEMININAS
Prosa Poética | 2024/8 Antologia Vozes Literárias | Fátima CordelistaPublicado em 31 de Agosto de 2024 ás 19h 49min
VOZES FEMININAS
A voz de minha mãe
Gemeu pela dor na alma
ecoou baixinho a revolta
a fome, a pobreza
cantarolando as mágoas
esfregando as trouxas de roupas
engomando os ternos
e os lençóis bordados
em troca de alguns vinténs
com que ajudava a amainar as
barrigas famintas.
A minha voz ainda
Canta versos perplexos
Rimados com desdém
E métrica de sangue
Onde a saudade viaja
Pelos caminhos do atraso
Pela falta de pão e escola
Pelo sonho e a luta
Contra a exploração a miséria
E a fome que me fez companhia
A voz de minha filha
Reúne todas as nossas vozes
Armazena em si as vergonhas
As vozes caladas, recalcadas
Sufocadas nas gargantas
Das mil mulheres violentadas.
A voz de minha filha
Reverbera em si toda a potência
Da lei da fala e do ato
Da justiça, de direito e de fato
Do ontem – do hoje – do agora.
Na voz de minha filha
Se fará ouvir a ressonância
O eco da liberdade!
Na voz da minha neta
Jamais se ouvirá lamento
Não haverá mais pranto
Nem fome nem violência
Haverá justiça paz e amor
Onde o trabalho será livre
Sem o opróbio do medo e
Da exploração servil
As ruas e as praças serão
Públicas e as crianças corram
Sem opressão,
Sonhem e lutem por um futuro
E um mundo melhor.