VOANDO PARA O DESCONHECIDO
Contos | Pedro Danilo FaoroPublicado em 30 de Outubro de 2024 ás 07h 54min
VOANDO PARA O DESCONHECIDO
Ainda me lembro, foi no ano de 1977 quando os indígenas das reservas indígenas de Nonoai, Planalto, Tenente Portela e Miraguaí no Rio Grande do Sul se rebelaram contra os posseiros que trabalhavam em suas terras e decidiram expulsá-los, segundo informações não oficiais eles foram influenciados obviamente por políticos, que jamais assumiram serem os responsáveis pela ação de incentivar os indígenas a tomar uma decisão tão radical, depois do movimento indígena a sociedade e o povo despejado das áreas indígenas começaram a se preocupar seriamente com a situação criada e passaram a procurar uma solução que fosse boa para todas as partes envolvidas e resolver o problema criado pela expulsão dos colonos das terras que ficaram desabrigados, sem-terra e sem trabalho, mas para onde esse povo iria? Foi nesse momento que entrou em ação o Governo Federal por intermédio do INCRA que resolveu assentar os colonos no Norte de Mato Grosso estado que recém tinha sido dividido. inicialmente essa decisão tomou todos de surpresa e assustou uma parte e motivou outra que ficaram eufóricos para conhecer o tapete verde do Brasil e confirmar as histórias dos animais lá existentes, pois se falava muito das onças que atacavam as pessoas e das cobras que tinham um tamanho gigantesco, tamanho de um pinheiro e muitos acreditavam nessa verdade fantasiosa.
No dia 27 de novembro de 1978 por volta das 11:00 horas da manhã, partimos do Rio Grande do Sul, para o Mato Grosso em um número aproximado de 130 pessoas, fomos levados de Nonoai a Porto Alegre em três ônibus da empresa Ouro e Prata até o aeroporto Salgado Filho de Porto Alegre, chegamos no aeroporto por voltas das 21:00 horas e voamos destino a Cuiabá às 11:00 horas em um avião da Vasp fretado pelo governo federal, ficamos todos maravilhados com a vista deslumbrante da cidade durante o voo que aos poucos foi ficando para traz e cada vez mais distante dos nossos olhos até desparecer por completo.
A viagem foi muito divertida e aconteceram muitas situações durante o voo, por que, nós os passageiros estávamos muito amedrontados por ser a primeira vez que tínhamos visto um avião grande, daquele tamanho, e também por ser a primeira vez que voávamos, mas o que me perturbava era aquele barulho ensurdecedor que as turbinas faziam e o barulho da turbulência quando passamos por uma tempestade no meio da viagem. Chegamos em Cuiabá por volta das 1:00 horas do dia 28 de Novembro de 1978 e quando descemos do avião nos deparamos com uma chuva forte e um calor quase insuportável, para nossa surpresa já tinha 3 ônibus da Empresa TUT Transportes nos esperando para nos levar até nosso destino que era desconhecido por todos, enfrentamos uma temperatura de mais de 30 graus que contrastava com a temperatura agradável do avião que era de 18 graus e isso causou um grande desconforto a todos que depois tivemos problemas relacionados à agua quente que tomamos durante a viagem de Cuiabá com a Tut transporte até Projeto Terra Nova;como desinteria e dores abdominais; que causou muitos transtornos na viagem que durou aproximadamente 14:00 horas. Mas durante essa viagem aconteceram alguns episódios interessantes como aquele, que quando eu pedi ao motorista para que ele parasse o ônibus, pois eu precisava ir para o mato fazer minhas necessidades e ele me perguntou com um sotaque totalmente diferente do nosso, parecendo sotaque nordestino, falando assim:
-Você vai cagar? ou vai mijar?
Eu respondi a ele que eu ia fazer as duas coisas, então ele falou:
-- Cuidado com a onça... e eu disse a ele que eu precisava ir de qualquer jeito que não tinha problema, pois a minha necessidade era maior do que o medo da onça. Foi então que todos os passageiros acabaram descendo do ônibus e indo para o mato, por que ninguém imaginava a distância que nos separava do próximo povoado ou cidade e foi assim entre sustos e surpresas que chegamos na Agrovila em que moramos até hoje e foi quando chegamos que a maioria das mulheres entraram em desespero, pois o lugar era completamente deserto e tinha somente um lugar aberto de aproximadamente 200 metros de largura por 1.500 metros de comprimento local onde tinha as casinhas do projeto muito pequenas, com dois quartos sem portas e uma área aberta sem paredes então a gente ouvia as mulheres chorando e falando(reclamando) que nunca mais iriam ver os amigos e parentes que ficaram no sul pois a distância era de aproximadamente 3.000 quilômetros.
Durante a noite ninguém conseguiu dormir devido medo de bichos e cobras e de madrugada os bugios começaram a gritar e todos pensavam que aqueles gritos eram de onça, pois eram muitos fortes e interruptos dando impressão que tinha centenas delas muito próximas de nós e foi assim que passamos nossos primeiros dias de Mato Grosso até surgir a primeiro caso de Malária que todos pensavam que fosse gripe devido à febre forte e pelos sintomas de dor de cabeça e dor no corpo, mas fomos informados de que aquela febre não era gripe e sim malária a partir desse momento muitos começaram mesmo sem dinheiro a planejar o seu retorno para o sul do país.
PEDRO DANILO FAORO