VIVER - Prefácio da obra "Melancolia" (Kiara Baco Anhon)

Prefácio | Josivaldo Constantino dos Santos
Publicado em 20 de Outubro de 2022 ás 19h 39min

VIVER - Prefácio da obra "Melancolia" (Kiara Baco Anhon)

Tentar interpretar os ditos de um poeta é o mesmo que andar por trilhas sinuosas e infinitas, pois um poeta não é para ser interpretado. A poesia, seja ela de que forma for, é o momento ou resultado de uma vida, de uma experiência muito particular, tal como nos mostra Kiara: “a luz que brilha sobre minha cabeça pediu pra nascer, e nasceu uma poesia”. Ou seja, a poesia brota de sentimentos, brota de movimentos intrínsecos ao poeta.

Eis o desafio que Kiara me propôs: prefaciar seu livro de poesia, sua obra poética – Melancolia. E agora? Tentarei interpretar Kiara? Não, pois, a poesia, enquanto linguagem da alma, existe para ser apreciada e integrada à alma de quem a lê, caso se identifique com ela. Então, falarei daquilo que me tocou, daquilo que penetrou em minha alma ao ler os seus escritos poéticos.

Se formos ao dicionário da Língua Portuguesa, o termo melancolia é apresentado como um “estado mórbido e persistente de tristeza profunda, pesar, desgosto”[1]. Kiara, quebra essa dureza, essa aspereza do dizer do dicionário e poeticamente apresenta a melancolia “como uma fase essencial do ser [...]”.  Nos apresenta a melancolia como “uma fase [...] de profunda reflexão sobre o que somos? Quem somos? E porque estamos aqui”? É lindo e profundo o sentido poiético (de criação) que Kiara atribui a esses momentos da vida pelos quais todos nós passamos.

Coincidentemente, li a obra de Kiara, em um momento de minha vida em que “me perdi no tudo e me encontrei no nada”, em um momento em que “nem mil canções poderiam expressar todo o vazio em mim”.  Li a obra de Kiara em um período que me sentia com “[...] medo de abrir a janela e ouvir os sons dos problemas”. Me debrucei sobre a obra de Kiara, em um estado de profunda tristeza. Estava passando naquele momento, pelo “cotidiano de um poeta depressivo”, porém, na tristeza, também se faz poesia. Quem de nós, a seu modo e a partir de suas circunstâncias, nunca passou por fases semelhantes a essas que Kiara poetisa? Será que Kiara poetizou a própria dor? A própria melancolia? Isso, somente ela pode dizer. O que sei, é que fui tocado por sua poesia; me identifiquei em muitas páginas poéticas de sua obra. Esse é o poder da poesia: tocar a alma do outro.

Entre a “monotonia” do cotidiano de nossa existência, entre altos e baixos da vida, assumimos, ora um existencialismo heideggereano, ora um existencialismo sartreano, ou seja, vivemos autenticamente nossa temporalidade, porém podemos nos aperceber em um nihilismo profundo. Clamamos simultaneamente pela morte, pelo amor e pela vida e muitas vezes não nos apercebemos disso, por estarmos na “caverna oca do eu”.

A poesia de Kiara, ao desnudar as nossas crises, mostra as nossas contradições existenciais. Mostra que em nossas faces “há faces e fases”; mostra nossas máscaras.

A melancolia que Kiara nos apresenta poeticamente, não nos leva a um abismo de tristeza e desesperança. Ao contrário. Ao nos proporcionar reflexões sobre o que somos, quem somos, e porque estamos aqui, nos ensina “[...] que o tempo é pouco, mas o suficiente para viver”, e assim como na Caixa de Pandora, sua poesia nos mostra que quando nos vemos sem saída, “algo novo surge [...] a esperança”, e a esperança é um “ciclo metamorfo” que nos torna o que não éramos. A esperança exalta o nosso ser.

Caros leitores e leitoras. Essa obra é um convite à VIDA.

 

            Prof. Dr. Josivaldo Constantino dos Santos (escritor e poeta)

            Faculdade de Educação e Linguagem – FAEL

            Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT

             Campus Universitário de Sinop 

 


[1] XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Língua Portuguesa. 2. ed. Reform. São Paulo: Ediouro, 2000.

Comentários

Parabéns! Prefácio com veio filosófico. Excelente!

ENOQUE GABRIEL | 21/10/2022 ás 09:03 Responder Comentários

Parabéns. Excelente professor.

Edson Bento da silva | 21/10/2022 ás 15:28 Responder Comentários
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