Diante da vidraça permaneço imóvel.
A vista embaçada congela o pensamento.
Meus devaneios alcançam o céu.
Paira uma melancolia sob o firmamento.
Não soube decifrar teus claros sinais.
Teus olhos inquisidores soluçavam afoitos por ajuda.
Tua voz muda, teus gestos descoloridos,
teus braços imploravam pelos meus,
ressequidos.
Perdoe-me...
O tempo tem sido impiedoso.
Minhas feridas latejam abertas.
O coração estilhaçado, sangra.
O reflexo na vidraça,
reflete e rechaça
uma gélida desesperança,
uma dor que não passa.
Dilacerado e assombrado,
sigo... É tarde. Já é tarde!
Afrouxo o pensamento.
Regurgito meu lamento.
Assovia, na vidraça, o vento.
Sigo... Nublado e cinzento,
absorto no esquecimento.
Livro: O que quero da vida