UMA PEDAGOGA, VÁRIOS ADOLESCENTES: A SEXUALIDADE HUMANA EM DISCUSSÃO. Prefácio da Obra "Percepções e Expectativas dos Adolescentes frente a Sexualidade Humana" (Marlete Dacroce)

Prefácio | Josivaldo Constantino dos Santos
Publicado em 21 de Outubro de 2022 ás 10h 04min

UMA PEDAGOGA, VÁRIOS ADOLESCENTES: A SEXUALIDADE HUMANA EM DISCUSSÃO. Prefácio da Obra "Percepções e Expectativas dos Adolescentes Frente a Sexualidade Humana (Marlete Dacroce)

Caros leitores e leitoras. Prefaciar esta obra de Marlete Dacroce, é, para mim, muito mais do que emitir um parecer e uma recomendação à leitura da mesma, é voltar ao tempo e perceber o crescimento de uma sementinha, que se tornou planta e agora é uma frondosa e frutífera árvore.

Marlete, a sementinha, foi minha aluna no Curso de Pedagogia, Marlete, a plantinha em crescimento, tornou-se especialista em Gestão Escolar, em Educação Especial, em Educação Infantil, em Psicopedagogia Clínica e Institucional, Marlete, árvore frondosa e frutífera, fez mestrado e doutorado em Ciências da Educação. Essas são as credenciais que você, leitor e leitora encontrará no percurso dessa leitura.

Esse livro trata da sexualidade humana, a partir dos olhares e expectativas de estudantes adolescentes. Geralmente quando nos deparamos com um tema dessa natureza, encontramos um conteúdo com abordagem muito técnica, pouco ou quase nada didática e de uma leitura entediante. Estamos acostumados a reflexões sobre sexo e sexualidade, oriundas de profissionais médicos, sexólogos, cujas orientações estão geralmente ligadas ao prisma da medicina, da terapia, mesmo que no âmbito educacional.

Para a nossa alegria e para a riqueza do processo educativo, vemos, abordar o tema da sexualidade humana, uma jovem pedagoga, pesquisadora e poetisa. Por isso uma abordagem aberta, franca, e repleta de sensibilidade e de uma profunda base científica. Como pioneira dessa região, Marlete foca o seu olhar para a região norte de Mato Grosso e nos brinda com resultados de sua pesquisa, de uma pesquisa reveladora, de uma pesquisa que tem como protagonistas vários grupos de adolescentes, estudantes do Ensino Fundamental.

Por que esse tema? Marlete como pedagoga e pesquisadora atenta ao processo educativo, percebe que as reflexões sobre a sexualidade não fazem parte da realidade educacional das escolas do norte de Mato Grosso, percebe que a orientação sexual aos adolescentes na escola não se constitui uma prática pedagógica, apenas algumas intervenções esporádicas e tímidas de alguma professora mais corajosa. Marlete, sabedora de que a maior parte do tempo, os adolescentes passam no ambiente escolar, se mostra inquieta com a carência ou até ausência de informação e formação sobre a sexualidade para esses adolescentes neste espaço educativo.

A partir dessa inquietação, que é própria de uma educadora e pesquisadora comprometida com o processo ensino- aprendizagem e consciente, como ela mesma diz, de que, “nem toda a escola está aberta ao diálogo, quando o assunto é sobre a sexualidade humana”, e percebendo por meio de sua experiência como educadora, e também por informações colhidas entre o corpo docente em contato direto com os estudantes adolescentes, que os mesmos, por curiosidade e desinformação, antecipam suas experiências sexuais o que pode acarretar em “vários problemas de ordem social e de saúde pública”, tais como: gravidez precoce, doenças sexualmente transmissíveis, prostituição, drogas, abuso sexual, etc. Marlete realiza sua investigação acadêmico/científica em 14 escolas das redes municipal e estadual, sendo 7 escolas no município de Sinop e 7 escolas em municípios circunvizinhos com um total de mil (1000) estudantes investigados. Em cada uma dessas escolas, a pesquisadora permaneceu por 30 dias, realizando seu trabalho acadêmico de informação, de formação, de orientação, de escuta sensível e consequentemente de coleta de dados, disponibilizado agora ao conhecimento público em forma de livro. 

 Por meio da intervenção pedagógica realizada diretamente com os estudantes adolescentes, em turmas específicas a ela apresentadas como adolescentes em situação de vulnerabilidade, a pesquisadora desenvolve sua pesquisação (pesquisa + ação) alicerçada por dois eixos temáticos: A história da sexualidade humana nas mais diversas culturas e a sexualidade como construtora de caráter.  Isto significa que os estudantes adolescentes passam a ter contato acadêmico, contato científico com a história da evolução da sexualidade humana através de tempos e culturas distintas, e, processualmente vão desmistificando visões e concepções engessadas e unilaterais sobre a sua própria sexualidade, ou seja, vão quebrando tabus e compreendendo a sexualidade como uma dimensão humana. Vão se olhando com outros olhos e vão se encontrando nesse universo da sexualidade e passam a entender com mais respeito a sexualidade do outro. Esta postura fica evidente visto que, à medida que as palestras interativas vão acontecendo, a pesquisadora relata que surgem mudanças na mentalidade, no comportamento e nos modos de agir de muitos adolescentes em relação à temática, e, seus professores e professoras também reconhecem essa mudança expressiva em seus alunos e alunas. 

Não poderia deixar de citar aqui a CAIXA DA SEXUALIDADE, que durante as palestras e demais ações proporcionadas pela pesquisadora era colocada na sala de aula e os estudantes depositavam ali seus relatos e questionamentos e dúvidas que eram sensivelmente, delicadamente e cientificamente comentados por meio de um diálogo aberto, sério, respeitoso e esclarecedor. Eis algumas perguntas que selecionei: “Como acontece a transa”? “Homem com homem faz filho”? “Se masturbar faz mal pra saúde”? “O que é abusar de uma pessoa”? “De onde vem o sêmen”?

Além dessas curiosidades próprias da idade e que precisam serem refletidas junto a eles com cautela, seriedade e conhecimento, situações gravíssimas foram descobertas por meio da Caixa da Sexualidade: casos de pedofilia, de abusos.

Enfim, a obra que Marlete nos oferece é uma obra investigativa e de caráter propositivo. É um não à “Pedagogia do Avestruz”, ou seja, enfiar a cabeça na terra e achar que a situação não me atinge, que não compete a mim enquanto educador e educadora tratar dessa temática em sala de aula. Marlete mostra a carência, a curiosidade e necessidade dos estudantes em serem orientados por seus professores e professoras sobre sexualidade e os próprios estudantes se posicionam favoráveis que seus professores tenham Educação Sexual em sua formação para poderem orientar com maior clareza e sensibilidade seus alunos.

A pedagoga, educadora e pesquisadora Marlete desafia com sua obra, a todos nós, educadores e educadoras à lutarmos pela garantia de políticas públicas que proporcionem a formação permanente de professores em Educação Sexual. Vamos a leitura?

 

                                      Prof. Dr. Josivaldo Constantino dos Santos (escritor e poeta)

                                      Universidade do Estado de Mato Grosso UNEMAT

                                      Faculdade de Educação e Linguagem - FAEL 

                                      Campus Universitário de Sinop

                                                                                        

                                                                                          Setembro de 2021    

Comentários

Deixo aqui minha admiração ao meu MESTRE inspirador. Qualquer palavra que eu fale é insuficiente. Por isso expresso todo meu carinho, minha admiração em uma palavra GRATIDÃO MESTRE! SOU SUA DISCÍPULA…

Marlete Dacroce | 31/10/2022 ás 20:24 Responder Comentários
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