Pai e filho caminham numa manhã triste em direção à estação, pois chega o momento de partida, de alçar voo para novos horizontes. É preciso ir em busca dos sonhos. Haverá sempre ganhos e perdas. A saudade logo começa a queimar o peito ao som do canto dos pássaros, o balanço das folhas e o odor das flores do campo.

— Chegou o momento de seguir.

— Estou com o coração partido.

— O mundo lhe chama.

— Tenho um pouco de medo.

— Um pouco faz bem.

— Gostaria de não tê-lo.

— Os excessos que atrapalham.

— Vou sentir saudade.

— Creio nisso. Sempre que puder mande notícias.

— Por que minha mãe não veio?

— Mãe não gosta de despedida.

— Fale a ela que eu...

— Eu sei... Este é o verdadeiro amor.

— Vou sentir falta desta vida natural.

— A troca faz parte, mas nem sempre é justa.

— Um dia ainda volto.

— Disse o mesmo ao meu pai, mas não cumpri.

— Acha que não volto mais?

— A cidade grande é viciante e dominadora.

— Se der certo pretendo levar todos comigo.

— Há uma distância entre o desejo e a realidade.

— Acha que esquecerei das minhas origens?

— Não. O problema é que terá outra vida.

— Quando eu morrer quero ficar aqui.

— Olhe, o trem está chegando!

— [...]

— Adeus, pai...

— Adeus...

— Vou levar seus ensinamentos.

— Eu sei, filho... Ia esquecendo, isto é seu!

— O que tem nesta caixa?

— Abra depois, pois o trem está de partida!

— Antes quero ver o que tem nela.

— Então, abra rápido!

— Não há nada na caixa! Por quê?!

— Um dia entenderá o significado de um vazio...