Pelos idos dos anos 2000, trabalhávamos com alunos de várias faixas etárias: do 6º ao 8º ano e Ensino Médio, Língua Portuguesa e Literatura.

Pois bem, naquele ano, recebemos, no 6º ano, dentre tantos, um jovenzinho muito carismático, meigo, amoroso e estudioso, como todo professor aqui do Sul gosta. Vamos chamá-lo de Pedrinho.

Pedrinho não faltava à aula. Estava sempre com os temas em dia, caderno caprichado. Competente. E era lindo!

Na sua estrutura franzina, mas ágil, olhos negros e grandes como duas jabuticabas. Cabelos igualmente negros e lisos caiam sobre os ombros e a franja cobria um pouco do seu lindo rosto. Pele branca como a neve e sempre um sorriso largo mostrando uma bela dentição.

Abraçava a todos quantos encontrava no pátio da escola, conversava com um e com outro, sempre gentil.

E o tempo foi passando. Pedrinho aprovando para séries mais adiantadas, sempre com o mesmo jeitinho meigo e carismático.

Foi para o Ensino Médio e agora, com corpo mais desenvolvido, quase adulto, mais lindo estava. Encontrou trabalho e passou a estudar à noite.

Nossa amizade estava mais forte e muitas vezes trocávamos confidências entre um período e outro ou até mesmo durante as aulas, pois dava tempo entre um exercício e outro.

O tempo passando. Pedrinho agora adulto prestes a se formar. Mas em uma determinada noite, sem eu esperar, quando me viu, aproximou-se xingando, gritando comigo, falando coisas sem nexo. Eu não estava reconhecendo meu aluno. Não tive dúvidas, bati o ponto de saída, 21h e 35 min e fui à delegacia de Polícia registrar um B. O.

O pai, sargento da Brigada Militar, fama de durão, foi chamado, porém repreendeu o filho também presente perante o delegado.

Na semana seguinte, Pedrinho me procurou para se desculpar, se justificar. Agradeceu pela minha atitude e disse ter aprendido uma lição, a do respeito. Nossa amizade perdura até os dias atuais. Formado e com um belo emprego, formou família e não esquecemos deste fato. Abraços continuam sendo trocados.

Ficou uma grande lição para todos.