Um dia, eu chorei.
Sentei-me ali; meu coração estava destroçado. O chão havia fugido de debaixo dos meus pés. Parecia que eu estava flutuando por entre as nuvens, e todos os sons haviam ido com ele. Era só eu ali. As lágrimas caíam dos olhos como as águas de uma grande cascata e molhavam todo o meu ser, como as chuvas torrenciais molham a terra. Meus sentidos também haviam ido; não sentia nada, não sabia mais nada. Eu estava envolto em uma onda sombria de sofrimento. Um grande buraco havia aberto dentro do meu peito. A sensação era de um abandono total. As mãos suavam frio, assim como o resto do corpo. Suor e lágrimas se misturavam, deixando-me em um estado dizimador. Não tinha forças para me levantar dali. Permaneci. As lágrimas brotavam cada vez mais, como fontes que brotam do interior da terra. Era o único sentido que estava funcionando com perfeição. Ninguém poderia me consolar. Não há consolo. Palavras se tornam inférteis aos ouvidos, e abraços são como flechas pontiagudas enfiadas na carne. O corpo se entrega ao regaço do abandono e se deixa fluir nas lembranças que agora invadem como redemoinhos, espiral, dilacerando ainda mais o coração que está comprimido dentro do peito. Não há o que fazer; a impotência governa com audácia diante do cenário em que se encontra alguém que um dia chorou.
Prosa poetica. Rose Correia.
Comentários
Maravilhosa escrita, me emocionei junto lendo !????
Taize Correa Portes | 19/02/2025 ás 09:10 Responder Comentários