Um conto de férias

Contos | Neiva Guarienti Pagno
Publicado em 06 de Março de 2023 ás 21h 01min

As férias da família Farina eram daquelas bem simples, mas simples mesmo. Não havia nada de luxo, de gasto com viagens, hotéis, roupas, avião. Carro? Também não. Eram outros tempos, quem sabe mais difíceis, mas com certeza divertidos e inesquecíveis.

Geralmente a família, que já era grande, juntava mais alguns parentes e lá se iam todos para um daqueles dias de férias na beira de um rio.

O pai ia até o galpão de madeira e pegava o trator. Depois enganchava uma carroça no veículo para levar toda a gurizada, além da comida, da água e das bóias, que eram algumas câmeras de borracha retiradas dos pneus velhos dos tratores do sítio.

A mãe subia no trator e ocupava o posto ao lado do motorista, ou seja, do lado do pai. Os sete filhos se acomodavam na carroça junto com mais três afilhados da família, além do Ivan, o primo mais atrapalhado, e Diana, a prima caçula e a mais dengosa do grupo.

E lá se iam todos para uma grande aventura na beira do rio, aproveitar um dia das férias da escola, data esperada o ano inteiro pela primaiada. Nada era comprado, tudo o que se levava era aquilo que se tinha em casa.

Na chegada ao rio, o pai ajudava os menores a descerem da carroça, enquanto os mais velhos já se aventuravam para dentro do rio, sem bóia nem nada.

A mãe tirava uma panela grande para cozinhar uma deliciosa galinhada, o frango já vinha temperado numa grande bacia redonda coberta com toalha bordada de crochê, também tinha alguns potes de bolo de chocolate e cenoura, uns dois pães bem grandes, pé de moleque numa outra vasilha, bolacha caseira e as térmicas de água, porque na beira do rio não tinha erro, a sede batia valendo.

As crianças menores não entravam direto na água, mas já ficavam ao lado do pequeno rio só apreciando os mais corajosos que pulavam, gritavam, davam cambalhotas, fazendo com que a água se esparramasse na beira do gramado que cercava o rio. A vontade de entrar era grande, mas Seu Farina e a esposa não deixavam os pequenos nadar enquanto os dois também não entravam na água.

E no meio dessa agitação toda, Seu Farina preparava uns galhos secos e ateava fogo, pondo a panela gigante de carne de frango em cima para fritar.

O tempo ia passando, a primaiada se divertindo, os pequenos num cantinho de sombra brincando com uns paus de árvore, o fogo aquecendo e fritando aquela carne gostosa de frango caipira… e o cheirinho de comida se dissipando suavemente pela paisagem fazia a barriga roncar de fome.

Quando a carne já estava bem douradinha, Dona Farina despejava uma considerável quantidade de arroz e mexia tudo aquilo sem parar, deixando tudo bem frito e misturado. Depois acrescentava água e, então sim, o aroma resplandecia pelo bosque chamando já a primaiada para perto das panelas.

Dona Farina arrumava uma toalha xadrez azul e vermelha no chão, com todo o carinho, colocava os pratos, os talheres, os pães cortados cuidadosamente, e, por fim, quando o arroz já estava bem cozido, lá vinha por cima uma boa porção de cheiro verde.

Então não precisava chamar ninguém, pois já estavam todos a postos com seus pratos na mão e, organizadamente, serviam-se um a um a apetitosa galinhada feita por Dona Farina. Era apenas uma galinhada com pão, mas, naquele dia tão especial, era a melhor comida do mundo.

À tarde, depois da sesta à sombra das árvores e na espera da comida para baixar, entravam todos na água. Agora sim Seu Farina e a esposa se divertiam junto dos menores e também com os mais grandinhos do grupo.

O Ivan, o mais desastrado dos primos, num impulso meio violento, jogou-se sobre uma bóia e enroscou seu pé ficando de ponta cabeça para dentro da água. Mas Seu Farina, com muita paciência, salvou o afilhado, que apenas tomou alguns goles de água.

Lá pelas tantas da tarde, a caçula Diana esfregou as mãos nos olhos e acabou deixando uma pequena farpa na vista, fazendo-a chorar insistentemente. Isso era serviço para Dona Farina, que, com a traseira de uma ramona, conseguiu tirar o pequeno estrepe alojado no olho da pequena.

E depois de tantos imprevistos e brincadeiras, a família juntou as coisas, colocou as crianças na carroça e todos retornaram de volta para casa, cansados, extremamente cansados, mas imensamente felizes pelo marcante dia de férias. 

Comentários

Eta, tempinho gostoso!

ENOQUE GABRIEL | 07/03/2023 ás 09:20 Responder Comentários
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