TUDO VIROU CINZAS

Contos | 2025 - FEVEREIRO - Corações em chamas: poesias e histórias de conexão | Isolti Cossetin
Publicado em 05 de Fevereiro de 2025 ás 15h 52min

                      TUDO VIROU CINZAS

Era Carnaval. A cidade pulsava em cores e ritmos, enquanto os blocos serpenteavam pelas ruas. No meio da multidão, Clara dançava, os pés descalços sentindo o calor do asfalto, o sorriso iluminando sua face. Foi ali que Pedro a viu pela primeira vez. Entre confetes e serpentinas, seus olhares se cruzaram, e o mundo pareceu parar por um instante.

“Você é real?”, ele perguntou, rindo sem jeito.

“Tanto quanto você,” respondeu Clara, com um brilho nos olhos que Pedro nunca esqueceria.

Os dias que se seguiram foram uma explosão de alegria. Juntos, eles exploraram cada canto do Carnaval: dançaram sob o sol ardente, dividiram risadas nas praças e compartilharam sonhos sob o brilho dos fogos de artifício. Clara e Pedro sabiam que algo especial os unia, algo que transcendia o frenesi do Carnaval.

Na terça-feira à noite, o último bloco cruzava as ruas, anunciando o fim da festa. Os dois decidiram caminhar pela orla, buscando um momento de tranquilidade antes que o Carnaval se despedisse de vez. Mãos entrelaçadas, conversavam sobre o futuro, sobre como o amor poderia resistir ao passar dos dias.

Quando o primeiro raio de sol da Quarta-feira de Cinzas despontou no horizonte, Clara sorriu. “Vamos fazer este momento durar para sempre,” disse ela.

Mas o destino tinha outros planos. Um estampido seco ecoou pela rua deserta. Clara parou de repente, a expressão de surpresa congelada no rosto. Pedro sentiu seu corpo fraquejar quando ela caiu em seus braços.

“Clara! Clara!”, ele gritou, a voz embargada pelo desespero.

Uma mancha vermelha se espalhava lentamente pelo vestido branco que ela usava. Seus olhos, antes tão cheios de vida, agora buscavam Pedro com uma fragilidade que o dilacerava.

“Foi um tiro… uma bala perdida,” murmurou um homem que surgira ao longe, atraído pelo som.

Pedro apertou Clara contra si, o coração em pedaços. Sentiu o último suspiro dela, um sopro leve como uma pluma. O som das batucadas do Carnaval parecia tão distante agora, substituído por um silêncio que pesava como chumbo.

Naquela Quarta-feira de Cinzas, Pedro perdeu mais do que um amor; perdeu a cor, a alegria, o futuro que tanto sonhara. Sentado na calçada, com Clara ainda em seus braços, ele olhava o horizonte, onde o sol nascia, indiferente à dor humana.

Tudo terminou na Quarta-feira de Cinzas. Mas em algum lugar, talvez nas ruas onde o Carnaval ainda dança em memórias, o amor de Clara e Pedro segue pulsando, como um eco suave em meio às cinzas.

 

 

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