A borboleta pousou na flor
Fê-la sorrir de alegria
A flor dançou ao som do vento
Embalada pela melodia
A abelha chegou de mansinho
Trouxe um agrado e um carinho
A flor enrubesceu de vergonha
Quando ganhou um doce beijinho
O beija-flor não podia faltar
Veio veloz e elegante
A flor estremeceu suas pétalas
Ao receber seu belo amante
A mosquinha não ficou de fora
Veio dar um abraço na amiga
Mas logo foi-se embora
A flor irrigava seu caule delgado
Derramando em suas folhas
Um pranto alegre e emocionado
A cigarra veio animar a festa
Tocando seu pequeno violão
Junto à formiga fez parceria
Entoando uma bela canção
E a festa seguiria animada
Mas o sinistro se aproximava
Os amigos se afastaram
Flor não podia mover-se
Estava só e pálida
O sol beijou-lhe a fronte
Num ímpeto de nostalgia
De seu olhar assustadinho
Brotou lágrima densa e fria
Sua vontade era arrancar-se
Entretanto, indefesa permaneceu
Encolheu-se e emudeceu
Já previa o que lhe aconteceria
De seu verde mundo, em breve, partiria
Transformada em efêmero adorno
Em um vaso, amiúde, morreria.
Livro: A sombra dos cinamomos