Tornei-me Imortal. E Agora?

Crônicas | Isolti Cossetin
Publicado em 18 de Novembro de 2024 ás 16h 27min

Tornei-me Imortal. E Agora?

Foi com uma leveza estranha que aceitei o convite. Imortalidade. Não, não há nada de sobrenatural em ser imortal assim, de forma simples, por uma cadeira de uma academia literária. Mas o que exatamente isso significa? O que se espera de alguém que agora carrega um título tão peculiar e tão eterno quanto a palavra "imortal"?

Lembro-me da cerimônia, o olhar dos outros acadêmicos, respeitoso e até um pouco desconfiado, como se estivessem aguardando uma espécie de milagre. Como se, ao me ocupar daquela cadeira, uma onda de sabedoria e arte fosse se derramar sobre todos. Eu, ali, diante de tantos nomes ilustres, só pensava no quanto minha caneta ainda tinha tinta para escrever. Porque o que me restava agora, depois de tomar aquele lugar reservado às palavras e aos escritores, era encontrar algo digno de tal honra.

A academia, com sua elegância e pompa, não me oferece respostas. Nem o fato de ser chamada de imortal resolve minhas dúvidas mais profundas. Afinal, ser imortal é algo que se escolhe? Algo que se vive? Ou é um fardo que se carrega, invisível e pesado, como um manto que não se pode tirar?

A primeira surpresa foi perceber como o tempo se torna mais fugaz. Antes, eu achava que a eternidade seria um mar calmo, onde o tempo se arrastaria, preguiçoso. Mas não é. Pelo contrário, as horas se aceleraram. Cada leitura, cada discussão na academia, cada palavra que me pedem para pronunciar, tudo parece como se fosse uma corrida contra o inevitável. Afinal, sou imortal, mas minha produção, meus escritos, meus pensamentos... esses sim, são finitos. Então, o que é mais importante: viver a imortalidade ou deixar algo de imortalidade naquilo que escrevo?

Há algo de frágil nessa ideia de imortalidade. Somos imortais apenas enquanto nos lembram. Naquele dia de posse, ouvi elogios e palavras gentis, mas, nos dias seguintes, percebi que o mundo não se detinha para me reconhecer. Continuava a ser apenas mais um ser humano, com os seus dilemas, os seus erros, os seus medos. Na imortalidade de uma cadeira, fiquei com a sensação de que o tempo não perdoa, e até a palavra mais celebrada pode um dia ser esquecida.

E agora? Agora, me resta a tarefa de deixar que o tempo me defina ou que eu defina o tempo. Cada obra que produzo, cada discurso que profiro, são tentativas de gravar meu nome em alguma forma que resista. Mas sei que, por mais que eu tente, o mais importante será sempre o impacto das palavras, a transformação que elas provocam nas pessoas. E talvez seja isso que, de fato, me faça imortal. Não a cadeira. Não o título. Mas as histórias que consigo contar, as que tocam as almas e fazem com que o mundo sinta algo mais.

Agora, imortal ou não, sigo escrevendo. Porque, se há uma coisa que aprendi ao ser aceita na academia, é que a verdadeira imortalidade não está em uma cadeira de ouro, mas na capacidade de, através das palavras, eternizar as emoções, as ideias e os momentos que, por mais efêmeros que sejam, tocam o coração humano.

 

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