Era um forte costume na pequena e humilde cidade onde Marta nascera: as novenas à noite para agradecimento, pedido de graça, prece pelos doentes, enfim.
Mas essas novenas não eram na igreja como se faz atualmente. Elas aconteciam nas casas dos moradores. E ninguém ficava fora do grupo de orações nem mesmo queria ficar fora, pois era um momento de reflexão, encontro com Deus e, principalmente, programa com os amigos.
As novenas aconteciam à noite, às dezenove horas. Durante nove noite seguidas (não se podia faltar nenhuma), todas as pessoas da pequena cidadezinha se reuniam na casa de um dos moradores, depois na casa de outro, depois em outo. Assim, até terminar os nove dias de oração.
Nove dias passam rápido, não é? Porém a cidade fazia novena de Natal, novena de Ano Novo, novena de Páscoa, novena de São José, novena de Nossa Senhora de Fátima, novena a Santo Expedito, novena de Santo Antônio, novena de São Pedro, novena de Nossa Senhora Aparecida, novena de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, e outras tantas.
Então era novena que não acabava mais. Era novena o ano inteiro. Era visita na casa dos vizinhos o ano todo. Mas o motivo era a oração e o alento da fé. Ninguém ficava em casa. Era pai, mãe, menino, menina, vô, vó. Todos participavam, sem esforço nem reclamação, porque era um legado do vilarejo.
As orações clamadas nas novenas eram simples, curtas, mas realizadas com muita fé e devoção. Todos os pedidos feitos até hoje não há indício algum que não tenham sido ouvidos por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Todavia, além da união, do encontro com a vizinhança, do cultivo da fé e do fortalecimento dos laços entre as famílias, havia o momento mais interessante e mágico dessas novenas: as tias da oração.
No caminho entre um vizinho e outro, as famílias se juntavam e iam orando e cantando. Então juntava muita criança. Perigoso perder alguma, porque as famílias tinham vários filhos e a noite era, na maioria das vezes, escura. Aí surgiam as tias da oração, ou seja, as moças maiores, sempre bonitas, elegantes e cheirosas, cabelos lavados e escovados, que adotavam uma das crianças menores.
O seu trabalho, nada árduo e feito com muito zelo e carinho, era conduzir pela mão uma criança durante o percurso de sua casa até a casa do vizinho onde seria feita a novena. E a tia era a acompanhante da mesma criança todos os dias da oração, todas as noites, o ano todo.
E a afinidade entre a moça e a criança passava a ser tanta, que a criança chamava a moça de tia.
Essa era a singularidade na cidade de Marta, a qual tinha como tia da oração sua grande amiga Maria.
Comentários
Um conto singular de fé!
ENOQUE GABRIEL | 07/03/2023 ás 09:08 Responder Comentários