Escrevo, e ao traçar cada pensamento,
Tua lembrança surge sem pudor.
No rigor da teoria e do argumento,
É teu olhar que dita o meu labor.

ADORNO me sussurra, em tom austero,
Que a arte sofre em sua imperfeição.
Mas no teu toque brando e tão sincero,
Encontro a forma exata da emoção.

ARISTÓTELES diria, em voz precisa,
Que o belo é luz, equilíbrio e razão.
Mas és catástrofe que hipnotiza,
És minha poética, minha paixão.

BAUMAN veria em nós amor etéreo,
Líquido, fluido, a escapar das mãos.
Mas sei que és porto, refúgio e mistério,
E habitas firme em minhas emoções.

ISER aponta que o leitor recria,
Que cada ausência clama por sentido.
Assim em mim, amor, tua poesia,
Mesmo distante, nunca faz-se um mito.

JAUSS fala em legado, em recepção,
O tempo molda o que o olhar abraça.
Te vejo e sei que em meu coração,
Tua presença é o que sempre enlaça.

LUKÁCS buscou na forma um universo,
No drama humano, a vida a se expor.
Mas é no tom dos teus olhos imersos,
Que compreendo a essência do amor.

SANTIAGO diz que há um entre-lugar,
Que rompe muros e desfaz fronteiras.
Assim te amo, sem me limitar,
Unindo mundos em mil canções inteiras.

BAKHTIN vê ecos na tua presença,
Diálogos vivos em tudo que há.
Teu nome ressoa na minha sentença,
Cada palavra me leva até lá.

LEVINAS prega o rosto que salva,
Que nos ensina, que é pura verdade.
E em tua face, amor, minha alma
Se reconhece na eternidade.

BOURDIEU diria que o campo é disputa,
Que tudo é força, poder e razão.
Mas és a paz que tudo escuta,
És meu refúgio na imensidão.

CANDIDO sonha com literatura
Como um abraço que o mundo refaz.
E tu, amor, és a trama mais pura,
O livro que nunca se desfaz.

ECO diz que a obra é sempre aberta,
Que nela mora a multiplicidade.
Assim é o amor que em mim desperta,
Sempre refeito em tua saudade.

E assim escrevo, em meio às teorias,
Mas és o verso que nunca se apaga.
Nos textos críticos, nas entrelinhas,
Teu nome sempre em minha alma vaga.