TABERNA DO TIÃO (uma breve nota sobre o vício)
Crônicas | Aline Barbosa da SilvaPublicado em 12 de Novembro de 2022 ás 07h 56min
TABERNA DO TIÃO
(uma breve nota sobre o vício)
Enquanto repousava o copo no balcão da taberna, o cheiro ainda era notável. Minha camisa suja de sangue, as batidas do coração pareciam sair pela boca. Queria eu ter uma religião nesse momento, que era para quem sabe ter acesso a súplica. Suplicaria então aos deuses que me acalmassem.
Depois de uma luta quase perdida, qualquer homem se sente relativamente forte ou relativamente assustado e eu estava na segunda cena. Ninguém me perguntou nada, nem me encheu o saco. Um dos motivos de ser cliente fiel neste estabelecimento.
O vício é de estar aqui ou de lutar? Tudo ainda é uma incógnita.
Há vício de vício, esses que te fazem ser compulsivo, querer a todo instante, não querer parar, obsessão.
Óbvio, porque é um vício!
E cada qual vai defendê-lo, mas repare que quando se tratar do seu próprio vício o orador sempre vai dizer que: “não se trata bem de um vício.” - Situação Cômica.
E ainda vão existir aqueles vícios que são justificáveis por um cunho moral. A ainda aqueles que são revestidos pela justificativa “atos democráticos”. Talvez tenham adquirido o vício de propagar seu ódio, um grupo, uma minoria, capaz de fazer estragos irreparáveis na vida dos que apenas querem paz.
Outros vícios caminham para a imoralidade, como quando vi meu nome sendo compartilhado numa lista parecida com a de inquisição, por ter simplesmente exercido o meu direito de lutar, lutar pelo que acredito, o mesmo direito conquistado por meus irmãos em 1988, para a infelicidade dos envolvidos, uma questão de posição escolhi a minha e venci.
Alguns vícios são mais agressivos, como a ameaça, a intimidação dos mais fracos, impossibilitar o direito daqueles que apenas querem ir e vir, simplesmente calá-los. Existe prazer e a justificativa.
- Ahhhh e sempre a mesma justificativa.
Precisava urgentemente mudar de pensamento, esse assunto de vício realmente está me deixando cansado. Levantei-me da mesa e fui pegar uma revista que estava próximo ao banheiro, chegando bem próximo, percebi que aquele ambiente escuro e fedorento conseguia sozinho fazer arder meus olhos, lugar escroto, mas quase me fez chorar.
Voltei para a minha mesa, abri a revista e ela trazia em suas primeiras páginas o posicionamento de uma grande profissional da psicologia, falava sobre como controlar seus vícios. E isso por acaso teria controle?
Quando pensei que sairia do assunto, me peguei lendo sobre, só que agora com uma sensação de um papo mais intelectual. Alguns exageros no vício precisam de mudança no estilo de vida, resolver tudo o que causa desconforto emocional, como vazio, relações rompidas, medos e ansiedades.
Nossos vícios, eu os meus e o cara sentado naquela mesa, quase caindo da cadeira certamente os dele. A diferença está em cada um ser responsável pelos seus exageros e não enchendo o saco dos outros com suas doideiras.
A garçonete que me atendeu, talvez tenha o vício de tentar tirar um sorriso meu, algo que venho tentando há anos.
São 2h da manhã e não entendo porque aquele maluco quis a minha cabeça. Foi por honra que rolei com ele em frente a igreja, o sujeito era mais forte que eu e nem por isso cedi. Meu vício é não perder. E com isso colho as consequências, ciente.
Às vezes um coração partido. Outrora, mais uma perda, senão mais um olho roxo como o de hoje.
- Pausa para retornar de onde parei, copo, balcão, vício.
É dia 11 de Novembro de 2022, país Brasil, Taberna do Tião, eu um copo e muita reflexão.
Foi um decêndio de agonia.
Comentários
Uma bela crônica! Merece uma boa reflexão!
Enoque Gabriel | 13/11/2022 ás 12:19 Responder Comentáriosmuito boa crônica! Parabéns
Val Castilho. | 27/02/2024 ás 21:30 Responder Comentários