Ser é Continuar

Prosa Poética | Carlos Onkowe
Publicado em 08 de Novembro de 2025 ás 13h 22min

Somos o prolongamento dos que vieram antes, a respiração dos que resistiram, o corpo onde a memória voltou a florescer.
Cada inspiração é um reencontro, cada batida do coração é um chamado antigo.

Não há ruptura entre os vivos e os mortos, há travessia.
O sangue é apenas o fio visível de uma corrente muito mais funda.

Quando dançamos, oramos ou criamos, os ancestrais se movem conosco, e é por isso que certos gestos nos comovem sem sabermos porquê.

A ancestralidade é o solo invisível onde o existir finca suas raízes.
Ela é o primeiro espelho, o mapa que o corpo lê sem precisar de palavras.

Recordá-la é resistir ao esquecimento, é manter acesa a chama dos que acenderam o caminho antes de nós.

Nós somos o testemunho deles.
Somos a carne que o espírito ancestral escolheu para continuar o mundo.

E quando silenciamos o ruído da pressa, podemos ouvi-los,
nas batidas do tambor, no som do vento, no fundo da nossa própria respiração.

 

Carlos Onkowe, in: @arqueologiadoexistir

Comentários

Olá! Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo. Ao utilizar este site, você concorda com o uso de cookies.