Saudade de ti, morena

Poesias Gaúchas | Antologia Clube da poesia e declamação gaúcha | Dolores Flor
Publicado em 08 de Março de 2025 ás 15h 26min

No silêncio do meu rancho, só o mate me faz companhia,
E a saudade, feito china, me encilha a alma todo dia.
O fogo de chão crepita, mas já não aquece nada,
Pois sem teus olhos morenos, minha vida é madrugueada.

 

Lá fora o minuano canta, espalhando pelo campo,
Um lamento de quem sente o amor virando quebranto.
Até o pingo se encolhe na sombra da figueira,
E o quero-quero, de longe, chora sua companheira.

 

Se soubesses, minha prenda, o que é viver sem teu abraço,
Saberias que essa ausência é laço forte e sem compasso.
Não há baile nem fandango que me faça recomeçar,
Pois meu coração se apartou quando te viu se afastar.

 

Lembro das tuas tranças soltas ao vento da estrada,
Do cheiro doce da terra depois de uma chuvarada,
Do teu riso, feito campana badalando na capela,
Daquele olhar feiticeiro que me tomou de sentinela.

 

Ah, morena, se soubesses como ando destrambelhado,
Nem o mate me adoça, nem o trago dá recado.
As noites são tão compridas que parecem sem manhã,
E a saudade vem campeira, me laçando de manhã.

 

Já tentei tocar minha gaita, mas as notas me traíram,
Já tentei bailar com outra, mas os passos se partiram.
No campo, até os cavalos andam tristes no potreiro,
Sentindo a falta dos olhos da prenda do fazendeiro.

 

Lá no galpão, a peonada já notou meu desatino,
Dizem que o homem se perde quando se apega ao destino,
Mas não é sina, é amor, é um rancho sem fogão,
É uma vida sem sentido, é um peão sem marcação.

 

E a lua, que antes linda clareava nossa estrada,
Hoje brilha sem coragem, por saber que foste embora.
Os cedros lá na porteira já não se curvam ao vento,
Pois até a natureza sente a dor do meu tormento.

 

Mas se a estrada te trouxer, minha prenda, de regresso,
Juro que largo essa mágoa e te abraço sem tropeço.
Dou um jeito no terreiro, arrumo tudo pra festança,
Pois um amor de verdade não se mata na distância.

 

Se tu voltares um dia, te espero no mesmo rancho,
Com o mate bem cevado e um poncho pronto pro abraço.
E se a saudade apertar, se o amor for de verdade,
Que a lua testemunhe nossa eterna felicidade.

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