SAUDADE DA INCONSCIÊNCIA

Prosa Poética | 2024/3 - Antologia Ecos do Silêncio: Poesias de Diversas Perspectivas | Valcastilho
Publicado em 08 de Março de 2024 ás 09h 08min

Minha avó sempre foi benemérita.

Lembro quando criança, mandava buscar as crianças retintas, para brincar com a gente na varada da sede da fazenda!

 

Uma santa mulher!

Teve uma empregada, que morava nos fundos da casa desde os treze anos, que tratava como se filha fosse!

E ela nunca fez questão de sentar-se à mesa nas refeições!

 

Que tempo bom!

Não se via falar em racismo.

E todos vivíamos em nossos devidos lugares...

Hoje é esse desconforto, as pessoas não sabem mais o lugar delas.

 

Se sou preconceituosa?

Deus me livre, sou cristã, sigo a Bíblia e comungo na missa de domingo!

O que foi feito no passado deve ficar lá...

Para que mexer, porque questionar é preciso pacificar para melhor viver...

 

Não fale em racismo!

Em feminismo!

De direito!

De humanidade!

 

Não perturbe o sossego da casa grande, do executivo da multinacional...

Ambos te pagam o salário-mínimo, do mínimo, do mínimo, ingrato!

Graças à fazenda e à fábrica que eles herdaram do bisavô, te pagam a comida, a luz e o aluguel...

Então, por que você os incomoda?

Querendo direitos sociais e igualdade racial que nunca fez falta ao teu pai, avô e bisavô!

 

Que saudade da minha avó...

Da vassalagem.

Da época em que cada um sabia o seu lugar!

 

O Brasil de hoje,

Incomoda os que nunca foram incomodados.

E eles sentem saudade da época em que não eram cobrados, mas reverenciados pela miséria que benemeritamente distribuíam.

 

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