Rua arenosa
Prosa Poética | Antologia Val Castilho e convidados | Dimar Monteiro SancaPublicado em 12 de Dezembro de 2024 ás 19h 46min
Rua arenosa
Vivo longe de mim
quando tudo que faço é escrever
o sotaque da palavra
Não pretendo dizer algo
nesses tempos dispersos
às vésperas da minha vez
Caminho no mistério
de uma rua arenosa
à espera do último passo
Trágica verdade
que a poesia exala
nesses dias de Pessoa
Nunca serei mais
que dois contos e uma moeda
Finjo-me distraído
À sombra do orvalho
me deleito a esperança
dessa imortalidade passageira
Sonho vil
bendita seja a lua
que graceja os olhos
Camponês e citadino
arando a vida com palavras
antes que o silêncio nasça
Da poesia não se vive o poeta
mas do que resta da sua eternidade
que o tempo fará
Já não tenho sede
do infinito nem da água
sim, da paixão ardente
Tudo o que resta
é apaixonar-se ao Sol
pela vida aos bocados
De tempos em tempos
a vida deduz e seduz
coração já não mora no peito
A vida se faz sem mim
de passos e pulos
Finjo-me distraído
Ora, o que depende
dessa existência esotérica
é falar da vida e do amor