Relatos de um Caco

Poemas | Antologia Val Castilho e convidados | Amanda Sugizaki
Publicado em 07 de Agosto de 2024 ás 21h 23min

Eu sou o caco.

Sim, sabe aqueles cacos quando quebram vidros?

Eu sou um deles.

Escondido atrás de um armário antigo,

De uma memória que ficou lá no canto.

 

Eu sou aquele caco que não foi descoberto,

nem pela faxineira,

nem pelo dono da casa,

muito menos pelo dono do meu coração,

que bebia constantemente em minha xícara, que virou em cacos.

 

Aqueles lábios que toda manhã e toda a noite

transferia sua água quente dentro de mim,

colocava o melhor do seu sachê,

o melhor do seu gosto,

e deixava os seus lábios descansarem em mim.

 

Toda manhã, toda noite...

E a tarde eu ficava ali, guardadinha, já limpa

aguardando a noite para revê-lo e senti-lo novamente

a descansar seus lábios em mim.

 

Eu sou o caco, o caco que um dia foi xícara,

que meu dono não me dividia com ninguém,

mas um dia meu dono revoltou-se,

jogou tudo no chão...

Inclusive eu...

 

Eu ainda não entendi o que aconteceu,

só compreendi que perdi minha graça,

minha vida, minha funcionalidade,

perdi o que eu mais amava fazer:

confortar os lábios dele...

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