Recordações em espinhos

Poemas | Antologia Ed Bento e convidados - Os espinhos não ferem as rosas | Manoel R. Leite
Publicado em 28 de Junho de 2024 ás 16h 24min

Na luz calma do entardecer

Me pus a vagar livremente pelas lembranças

Cada momento um suspiro, um acalento

Sentir que muito do que vivi foi a eras

Em simples relances vidas se passaram

Sorrateiramente notei o fio condutor

O trilho que conduz a todas pelas cidades

Tudo que se passava trazia um ponto comum

Espinhos de minha vida

Espinhos de minha alma

Vagueei em cada lembrança

Sofridas ou meramente desconfortáveis

Notei então que espinhos que retirei me fizeram melhor

Mas, nem todos ocorreram o mesmo

Alguns ficaram pois nem sabia que incomodava tanto

Então, lá ficaram por serem discretos e imperceptíveis no dia a dia

Outros não dei conta de retirá-los

Ficaram pelo grande esforço na remoção

Como pé que se acostuma com a pedra no sapato

Lá eles ficaram,

Calejando, raspando e habituando a tudo

Fazendo as vezes até parte de mim.

Porém, os mais estranhos

São os espinhos que propositalmente

Estão em mim

Vivem como uma lembrança necessário

Um coração já ferido deveria pensar em não ferir

Um coração que já magoou carece de alerta

Alerta para não se vingar, não se vitimizar

Quero viver com esses espinhos

De lembranças que formam o meu ser

Que mostram a minhas imperfeições

E correm na lembrança um bilhete

Que afirma a imperfeição que sou

Polinizando novos sonhos

Para que não sofras as mesmas desilusões

Talvez novas, outras desilusões

Outros espinhos

E novos amores.

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