Reconciliação
Poemas | Arraiá das letras - Família Literária 2025 | Isolti CossetinPublicado em 29 de Junho de 2025 ás 12h 42min
Reconciliação
Na vila pequena e singela,
onde a festa é tradição,
acenderam uma fogueira
pra São João do coração.
Mas dois olhos não brilhavam
no calor da multidão.
Era Clara, moça faceira,
com vestido azul de flor,
que trazia no silêncio
um punhado de rancor.
Desde a última quadrilha,
não falava mais de amor.
João, moço sanfoneiro,
tinha o riso encantador,
mas guardava no seu peito
um orgulho sofredor.
Com saudade entre os dedos,
dedilhava a própria dor.
Foi então que a chama viva
se acendeu no arraial,
e a fogueira disse ao vento
um segredo sem igual:
que amor, se for verdadeiro,
é brasido imortal.
Clara foi chegando perto,
com o olhar meio nublado,
e João, com passo incerto,
se achegou, desconfiado.
Coração já tremia
mais que milho estourado.
— Você lembra da promessa?
— Foi aqui... naquela vez...
— Eu tentei te esquecer,
— Mas sonhei com você
um par de vez...
No calor da lenha acesa,
o perdão ali se fez.
Seus olhares se tocaram,
feito dança de balão,
e a fogueira testemunha
foi da santa reconciliação.
Amor, quando é de verdade,
não morre com discussão.
Dançaram até o dia,
sob as bênçãos do sertão.
E o povo ali dizia:
— É milagre de São João!
Pois até a mágoa se rende
Diante do fogo da paixão.
Comentários
Belo poema! Quase um cordel!
Lorde Égamo | 29/06/2025 ás 14:05 Responder Comentáriosentão, era para ser em forma de CORDEL, mas ando tão ocupada, ultimamente, que prrefiro escrever bem ao meu estilo: versos livres!
Isolti Cossetin | 27/07/2025 ás 12:41