QUANTO VALE A VIDA DE UM SOLDADO RASO?

Poesias Gaúchas | BIANCA BERGMAM
Publicado em 30 de Outubro de 2025 ás 13h 26min

QUANTO VALE A VIDA DE UM SOLDADO RASO?

 

Quanto vale a vida de um soldado raso

E seu sangue pobre a manchar os campos?

Quanto vale o tempo que não foi estrada?

Quanto vale o sonho que jamais se fez?

Quanto valem planos nunca planejados

E um amor quebrado, que partiu-se em três?

 

Quanto vale o abraço que não foi entregue

E ficou perdido entre as entrelinhas

De um poema antigo, que se fez silêncio

Quando a voz calou-se pela noite escura?

 

Sim...

Eu entreguei meu filho como tantos!

 

Como tantos outros, que assim por honra,

Navegaram mares, para além dos tempos,

A pegar em armas, defendendo terras...

Terras tão distantes, que nem eram suas...

Por glórias distintas, que não foram nossas.

 

Sim...

Eu entreguei meu filho como tantos!

 

E chorei o pranto dos desesperados,

A secar a alma, que encharcou de medo,

Por saber que as ordens não resguardam vidas.

Por saber que a vida se desfaz tão fácil.

 

A guerra não tem pena dos soldados!

Estranha cafetina em servidão.

A morte vem vestida de medalhas,

Beijando as suas bocas, um a um...

 

A guerra faz promessas tão insanas!

A morte vai despindo-se,

E então a guerra coleciona seus fantasmas

E a morte é nua e fria, sem paixão.

 

Sim...

Eu entreguei meu filho como tantos!

 

E ele foi mais um que lá caiu.

Não sei se foi por bala ou canhonaço,

Se em dia de calor, noite de frio.

 

Só sei que aqui, agora, a gente chora,

Com ouro reluzindo em nossas mãos.

Quilates de saudades, que me sangram

E trazem essas interrogações...

 

O vento vem contar dessas distâncias!

O tempo vem cobrar a sua conta.

No peso dessa dor, que nunca passa,

Os anos são açoites nas lembranças.

 

Respondam-me, senhores dessa guerra...

A troca foi proposta, estou aqui!

 

Na caixa uma medalha de bravura...

Bravura que ao meu filho não serviu!

 

Trocaram o meu filho por medalha!

E agora estou aqui, quero saber!

Que desçam dos seus postos e me contem...

Meu filho já não pode me contar!

 

Quanto vale o abraço que não foi entregue?

Quanto vale o beijo que não posso dar?

 

Respondam-me!

Respondam-me, "senhores"!

E olhem nos meus olhos ao contar.

 

Espero essa resposta há tanto tempo...

Não tenho mais paciências e nem prazos.

Na conta amaldiçoada dessa guerra,

 

Quanto vale a vida de um soldado raso?

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