Chego ao meu destino, ou melhor, o destino de meu filho. Isso era tão simples, uma breve despedida cheia e sorrisos, abraços e alegrias. Crianças descendo dos carros dos pais, correndo, apresadas, apresentando gestos de crianças. Aquele muro que deveria transportar para outros mundos, com sonhos, aventuras e esperanças. Hoje parece muito mais cinza. O medo está tingindo o muro, como tinge o coração de adultos e crianças.
Estaciono o carro e o mais tranquilo possível, aproximo de meu filho e o conduzo para a entrada da escola.
— Não se esqueça da máscara! Deixe que eu leve isso! — Afirmando aquele protetor facial obrigatório e que impede de ver o seu rosto e a sua expressão.
Ajudo com a mochila, muito colorida, com rodas para tentar disfarçar o peso do conhecimento, o pelo dos compromissos ou simplesmente dos materiais e ferramentas de aprendizado. Ele apenas me diz:
— Tudo bem papai. — E, prontamente coloca a máscara, cheia de desenhos de heróis. Os vingadores esses sãos os personagens, neles ele se inspira, talvez para alcançar a força do Hulk, o conhecimento do Homem de Ferro, a precisão do Gavião Arqueiro, a vitalidade de Thor e a determinação do Capitão América. Tirar a sobriedade de alguns eventos pode auxiliar que se tornem um pouco mais fácil de transpor.
Dirigimos a fila, com toda distância que se exige. Ao aproximar-nos do portal. Percebo os funcionários atentos e, tensos, com uma leve tentativa de sorrir. Não sei se era pelas máscaras ou porque não estavam realmente sorrindo, quando desse momento um deles me alerta.
— Aí está bom! — Um alerta meio que tentando ser intimidador e com ar de repreensão.
— O material está pesado. — Afirmo mostrando a mochila com muitas coisas, algumas sei que não precisaria estar lá todas as vezes. Mas da mesma que quando fazemos uma viagem e não saberemos realmente o que iremos usar, também isso acontece com o material escolar das crianças. Nunca se sabe o que o professor irá utilizar naquele dia. Muitas vezes estojos, compassos e réguas são carregados diariamente, para serem usados semanalmente de maneira esporádica. No entanto essa conversa não faria nenhum sentido. Afinal, eu deveria apenas me afastar e entregar o material para o meu filho.
Abaixe-me e fui automaticamente de despedir, quando ouço a voz novamente.
— Sem abraços! Mantenha o distanciamento social!
— Está certo! — Falo sem concordar, falo sem opinar. Afinal que situação é essa que proíbe um pai de abraçar um filho. Antes todos questionavam a distância existente dentro da família. Hoje é quase um crime demonstrar afeto com os pequeninos.
Despeço-me apropriadamente e volto para o carro.
Fico a olhar aquela cena. Mas, sem demorar muito afinal precisar liberar espaço para outros carros.
Durante a manhã em muitos momentos me esqueci daquela situação no portão da escola, em outros contudo, me sentir tão apreensivo quanto o primeiro dia que deixei meu filho na creche. E, busquei que isso me acalmasse. Afinal a aflição era minha e não dele.
Naquela manhã cheguei mais cedo na escola do que de costume. Aguardei e fiquei a observar as pessoas, as construções com pensamento vago o passar do tempo.
Quando tocou o sinal aproximei lentamente, e mantendo uma certa distância do protão de saída. Vejo meu filho saindo e faço um leve aceno. Ao ver ele se aproximar me ofereço para auxiliar com os materiais.
— Tá tudo bem. Eu levo.
Com certo esforço vejo ele a carregar os materiais. Porém, não insisto nem discordo. Ele guarda os materiais no banco de trás e senta-se.
Ates de ligar o carro pergunto-lhe como foi as aulas. E, ele ainda de máscara me responde.
— Normal.
Um som seco, encoberto de emoções. Como se aquelas circunstâncias fossem normais. Não conseguir enxergar nenhum sorriso através da máscara. Nem muito menos me sentir confortável com aquela proximidade distante.
Comentários
Tudo tem momento certo
| 23/01/2022 ás 06:50 Responder ComentáriosCom certeza, momentos certos são as verdadeiras oportunidades
Manoel Rodrigues Leite | 04/02/2022 ás 09:38 Responder Comentários