Presenças Que o Sonho Visita

Poemas | Rose Correia
Publicado em 20 de Dezembro de 2025 ás 12h 50min

Sinopse:

Um encontro onírico devolve a presença de quem ficou no passado. Entre gestos, memórias e lucidez, o texto revela o limite silencioso entre sentir e ceder. Um lirismo contido sobre reconhecer emoções sem permitir que elas determinem o retorno.

 

Presença Que o Sonho Visita 

 

Ele chegou como quem nunca partiu,

com a calma imprudente

de quem acredita que o tempo apaga rastros.

Eu dizia para ir.

Dizia com palavras.

Mas ele ouvia outra coisa —

talvez o que o silêncio ainda guarda,

talvez o que a memória insiste em tocar.

Houve um gesto.

Um instante permitido apenas ao sonho,

onde o corpo reconheceu

o que a razão já não chama.

Era real demais para ser desejo,

profundo demais para ser escolha.

Eu recuei.

Não por ausência de sentir,

mas por excesso de lucidez.

Depois o vi distante de mim,

feliz no próprio chão,

mãos na terra,

inteiro em outra paisagem.

E então compreendi, sem alarde:

há presenças que o sonho visita,

mas a vida não acolhe.

Acordei com o coração em vigília,

sabendo que sentir não é ceder,

e que até no sonho

aprender a dizer não

é uma forma de permanecer inteira.

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