Prefácio, Doçura, Fascinação e Poesia, Enoque Gabriel, Egamo
Prefácio | ADAILTON LIMAPublicado em 17 de Agosto de 2024 ás 12h 42min
Prefácio
Um prefaciador deve ter expertise e subsídios relevantes para tomadas de decisões, mas quando tal missão é dada para um marinheiro de primeira viagem, ele ficará à mercê das intempéries do mar. Enjoos, sustos e insegurança, devem acompanhar o “recruta”, da proa ao convés. Até descascar batatas, torna-se uma atividade difícil, ante os olhares críticos dos marujos mais antigos. Mas, missão dada é missão cumprida, e quando o poeta e escritor Enoque Gabriel Moraes, Lorde Égamo, me fez esse honroso convite, uma inquietação tomou-me: como fazer um prefácio? E o pior como realizar tal proeza tendo como protagonista, um escritor de tamanha estirpe? Nas linhas seguintes, essas respostas poderão ou não ser respondidas.
“Doçura, fascinação e poesia”, realmente é uma obra doce, fascinante e poética, Lorde Égamo a dividiu em quatro peças, na primeira parte ele mostra toda sua sensibilidade e amor pelos amigos, poetas e a vida de forma geral, abrindo o livro com a “Ode à poesia”, onde laureia esse gênero textual e nos encanta com versos encantadores, como os da última estrofe: “Poesia, quero ser seu mensageiro da verdade dos sonhos que hão de vir!” , se colocando como um verdadeiro arauto, disseminador da poesia e de toda beleza do lirismo. Em “O Universo dos Poetas” ele versa sobre a introdução das homenagens que está por vir, “Aqui deixo meus apontamentos, a todos homenagens eu presto! ...pois quero poder honrar e brindá-los no meu manifesto”. E esse prefaciador foi reverenciado pelo Lorde em “Pulsão poética”, “Revelação”, com palavras “gestuais” de gratidão e qualidades que a vaidade abraçou. “Há um ser em nosso meio, afirmo que é bom, até demais!” Assim ele começa “meu” poema de homenagens cheio de versos elogiosos e de demonstração de amizade, em seguida massageia meu ego, “sente prazer em alegrar os amigos, não há quem seja mais especial...” sua generosidade continua nos poemas seguintes, em “Amigo leal”, romantiza a amizade verdadeira de um companheiro de infância, depois distribui cordéis, sextilhas, septilhas e acrósticos, homenageando amigos escritores, verdadeira declaração de amizade em forma de poesia. A juventude atual foi lembrada na bela, “Juvenoia e ousadia”, “Feliz aniversário”, “Felicitações ao casal” e “Bodas de prata”, seguem com o peso do sentimento, destaque para “Felicitações ao casal”, que versa sobre o matrimonio de sua filha querida, aliás a família é uma página linda e colorida na vida do nosso autor, ele nos presenteia com “Ela quer ser mãe”, um texto recheado de carinho e atenção, versando sobre a maternidade, “O amor já brota em seu peito, fica mais bonita em seu amanhecer”, sensibilidade e poesia em um tema divino e fecundo.
Enoque não se esqueceu de “sua” cidade, Cardoso, onde foi “adotado” e ali viveu muitas aventuras, nesse poema ele bibliografou um pouco de sua vida, suas conquistas e alegrias, com muito saudosismo e lembranças boas. Em “Réquiem de Mozart” nos apresentou a vida de um gênio que nos deixou prematuramente, e de quebra faz referências a música uma de suas paixões, e as homenagens não param. “O poeta dos sentimentos” é um regalo cheio de sentimentos, uma peça intimista e necessária para colocar sempre no pódio um poeta intenso, que coloca o coração nos seus feitos, Luiz Corredor, homenagem singela para um homem que personaliza sua escrita através da alegria e da dor. “Diante de nós surge o poeta com intelecto sábio, um remidor! Das minúcias que surgem em sua frente, anota até de forma displicente, certo que será combustível para o escritor”. A primeira fase do livro termina com o desafio/brincadeira dos poemas sem vogal, Enoque não só suprimiu a letra A, como nos fez refletir sobre sua “Insana incumbência”, sobre a loucura controlada de tal tarefa, e dos “malucos beleza”, produzidos após testar a mente na supressão da tal letra.
A segunda parte do livro “Doçura, fascinação e poesia”, têm uma encíclica de reflexão e a promessa do autor, ‘de poemas de enlevo e muita expressão’. “Inculta e bela” não são palavras opositoras, mas Égamo provocou com esse belo texto a riqueza da língua portuguesa e as analogias e mudanças temporais, citou o Príncipe dos Poetas, o parnasiano Olavo Bilac, Camões e Garret e deixou para os leitores e poetas, mais que poema, ideias a refletir. “Não devemos aderir ao linguajar das massas”, com isso ele eleva a importância do escrever e lembra o papel multiplicador do escrevente. “Atenta contra a inteligência intelectual, esse falar vulgar, gírias, neologismo atual, são mudanças que atropelam a sabedoria”. E os escritos pomposos continuaram cm “Retorno”, “Consciência universal”, “Pedras em sua coroa” e “Sonho de liberdade”, que versa sobre a verdadeira liberdade, sem imposições nem acordos, com isso Lorde Égamo faz uma ligação simbiótica com o poema “Uma nova chance”, que fala da expectativa de oportunidades que não podem ser desperdiçadas, em um viés otimista, mas cauteloso e de olhar amplo, e nos traz esse belo trecho: ”É preciso lutar em cada momento/produzir coisas boas no pensamento/e prudência ao discernir opiniões”. O cordel “Como uma águia” discorre sobre a imponência dessa ave, comparando sua renovação natural, com nossa própria existência, da necessidade de se despir de preconceitos e dos sentimentos ruins, a águia de Enoque é uma fênix, que nos ensina a trocar tudo que nos incomoda por “novas asas”. O Poema “Que olhar é este?” faz parte da trilogia, “Este olhar” (Rosy Neves) e do poema, “Quem nos Olha?” (Adailton Lima). A poetisa Rosy Neves tem o dom de deixar rastros poéticos em sua obra, e Égamo com seu faro lírico, percebeu que renderia poesia, e assim versamos sobre o “olhar” divino do desconhecido, que vê tudo e todos em um prisma sobrenatural e sacro. Nesse contexto nos deparamos com “Entre Deus e o homem”, o autor reflete sobre a bondade de Deus e a ingratidão terrena, com um eu lírico marcante, característico de um Lorde poético, “É uma constante o que se vê no dia a dia, uma missão sem nexo, uma vida vazia, sem amor, sem fé, sem virtudes, sem perdão”, pondera, ante as arbitrariedade do ser humano. A alma é um tema presente nos escritos de Lorde Égamo, ele trata a alma como a essência divina contida no nosso corpo, o equilíbrio espiritual que dá vazão a nossa existência passa por uma alma pura e ditosa, talvez por isso ele fechou essa segunda parte com dois belíssimos poemas, “Cuidados da alma” e “Pétalas da alma”, que perfuma nossos olhos com a beleza da poesia: “Vejo a alma como uma bela flor/com suas meigas pétalas a brotar/jubilosa e bela em seu vigor/Enche-nos de vida seu desabrochar”.
Na apresentação da terceira parte o autor ratifica o entretenimento poético de suas obras com a doçura e fascinação, característica do seu estilo lírico e tenro, que nos prende a cada poema seu, a “Dama sonhadora” e “Emoldurada de flores” abrem essa fase do livro, a primeira é uma ode que enaltece a mulher e a segunda um cordel magnifico, ambas, enaltecem a beleza a fermina. Uma em rebuscadas palavras, valoriza seus encantos e mistérios, “Dos lábios teus fruem suave canto/que é tão doce com mil encantos/ao entoar vem ao amor mimosear”, são fragmentos de um belo ensaio que emoldura a mulher ‘com formosura colossal’, enaltecendo o poder feminino com belos versos. A outra coloca a figura da mulher emoldurada em um belo jardim, “quero ver-te entre os lírios, cujo branco induz pureza, exibindo o seu sorriso”. “Entre girassóis”, “Instigante pureza” e “Num jardim seu flor” (este com a participação da poetisa Lina Lower), é romantismo puro, Lorde Égamo confirma com esses poemas sua inclinação romântica e cirúrgica no apelo ao coração. Podemos facilmente vislumbrar essa característica em “Uma deusa em minha vida”, “Admiravelmente bela” e “Um poema pra você”, que nos versos e estrofes, facilmente vemos a assinatura de Enoque Gabriel, que brinca com as palavras, com trocadilhos românticos e declarações de amor. Essa fase fecha com “Aspiração e inspiração”, um poema leve que retrata um contraditório enredo, onde o poeta com sua simplicidade, versa sobre a humildade e da origem de tanta inspiração.
A quarta parte do livro nos leva ao imaginário da “conotação diferenciada, amor respeito e indícios de sensualidade”, afirma o autor, que começa com “Salaz lembrança”, um grito de saudade e de uma paixão de outrora, que reverbera em um coração saudosista, “O tempo passou, nunca mais nós vimos, distantes um do outro, prosseguimos, hoje só nos restou tão salaz lembrança”, ratificando o passado e um sentimento que ficou. Em “Delírios platônicos”, “Doce bailarina” e “Após o baile”, o lado sensual do Lorde poético foi aflorado com belos ensaios, explorando a beleza da mulher, com poesia e ousadia, em “Delírios platônicos” ele retratou o desejo de maneira inflamada e latente: “Embora distante, parece estar presente, mesmo em dias gélidos, o corpo se faz quente, a magia da libido ao seu par invadir”. O poema “Provocante sedução” fecha a “sensualidade” poética do autor com chave de ouro, ele provoca os leitores com uma construção intimista/descritiva, levando-os a imaginar os caminhos sensuais de uma paixão ardente, “Assim em meu colo a poderei tomar, envolto na luxuria de dois corpos em chamas, que buscam nas caricias satisfazer seus desejos, entre gritos roucos, afagos e deliciosos beijos, ao clímax juntos, alcançam com toda sua flama”, destaca. Em “Magia dos astros” seu eclético talento, pode ser admirado mais uma vez em um lindo cordel, os astros são homenageados em rimas perfeitas, métricas e o eu lírico em perfeita sintonia, acho que o mestre Patativa de Assaré, ficaria orgulhoso do legado tão bem representado por um lorde da Poesia. Os poemas “Sobre o véu do prazer”, “Abraço sedutor” e “Encontro fecundo”, o autor ressalta mais uma vez a figura feminina, tema que o inspira em um misto de sensualidade, empoderamento e paixão, explorando o lirismo, para nos presentear com belíssimos textos. A exemplo do” indagante” poema, “Quem é essa mulher?”, nas quatro estrofes dessa peça ele responde a emblemática pergunta com maravilhosos versos, que faria Vinicius de Moraes, com sua Garota de Ipanema, propor um dueto com nosso Égamo. “Boa noite, amor”, é o poema que encerra essa grandiosa obra, uma verdadeira viagem poética, com variações textuais que a poesia permite, tão bem explorada por Enoque Gabriel de Moraes, o Lorde Égamo. Nos versos de “Boa noite, amor”, permito-me uma junção das estrofes, que propositalmente ou não, é possível criar uma digna despedida desse inédito prefácio: “Hoje saciei minha sede/da viagem por caminhos coloridos/que sejam todos eles garridos/com alamedas de jardins floridos”.
Boa viagem nesse trem poético, com pontos em estações floridas, cheias de nuances envolventes e paradas necessárias, por conta do balanço frenético de emoções.
Adailton Lima,
Poeta, Escritor, Prefaciador
Comentários
Cada vez que me deparo com esse texto vejo quão versátil é o poeta, quanto brilhante pois coloca todo seu lirismo na execução desse prefácio deixando-o no pedestal de uma obra prima! Obrigado, poeta! Obrigado Adaílton Lima!
Lorde Égamo | 17/08/2024 ás 13:09 Responder ComentáriosMeu querido Lorde da Poesia, suas palavras me envaidece, não sou digno de tanto clamor, você me fez o convite e me esforcei para está apto, para tanta beleza no interior do seu livro.
ADAILTON LIMA | 17/08/2024 ás 19:57