Prefácio de "Poesia para um livro", de Bernadete Crecêncio Laurindo

Prefácio | Romeu Donatti
Publicado em 04 de Abril de 2023 ás 12h 57min

A vida nos reserva gratas surpresas! Jamais poderia supor que seria convidado a prefaciar uma obra da renomada autora Bernadete Crecêncio Laurindo. E o faço com prazer, alegria e contentamento.

Alegria, aliás, é palavra-chave, onipresente, na vida da poeta. Fecho meus olhos e volto no tempo. Estamos em 1999, na UFMT – Campus de Sinop, Curso de Direito. Bernadete e eu somos colegas de turma e junto de nós um grande número de inesquecíveis colegas. Eis que vez ou outra, para ser franco, DIARIAMENTE, uma gargalhada incomparável retumba pela sala de aula ou pelos corredores acadêmicos. É Bernadete a fazer uma tarefa que lhe cai como uma luva: sorrir, rir, divertir-se, gargalhar da vida e para a vida. Bernadete é sinônimo de leveza e felicidade.

É com este sentimento de levidão e comprazimento que mergulho em Poesia para um livro para degustar cada texto.

Como ela própria costuma descrever-se, é advogada, professora, escritora e mãe. Catarinense de nascimento, já está em Sinop há muito tempo, desde 1986 e, aqui exerceu diversas funções que a credenciam como uma verdadeira cidadã sinopense. Sua carreira literária é profícua, com mais de meia dúzia de obras publicadas, além de participações recorrentes em diversas Antologias. Vida e obra, obra e vida preciosas!

A escolha da capa de Poesia para um livro revela-se um prenúncio, pois nos permite entrever um gosto requintado da poeta pelas boas coisas da vida, para o sabor indescritível de um bom vinho que se estende por seus versos, seus textos.

Seus versos pequenos contrastam com a magnitude do alcance que produzem. São sibilantes, sonoros, minimalistas, intimistas. Sua poesia se constrói pelo olhar atento, pela observação sagaz dos detalhes, como em A lua espia:

“A madrugada.

Feito fantasma camarada,

Ronda na noite iluminada.”

Assim como a lua curiosa, também nós espiamos o futuro, e ele bem ali na soleira da porta, já entrando, sem licença pedir, que Desacerto!

“Vivemos o presente,

nos preparando

com tanto esmero,

para o futuro,

com olhos no futuro...

(Pobres de nós),

sem nos aperceber

que o presente

é o futuro acontecendo!”

Ah, se soubéssemos desfrutar mais do carinho despretensioso, que se entrega, do afeto sincero, da amizade gratuita, o viver, tal qual uma aprazível taça de vinho, tornar-se-ia uma experiência única de presente sendo presente. O futuro acontecendo!

A tarde que se vai, a noite alta, a chuva no telhado, a relva. As percepções corriqueiras do cotidiano não fogem de seu perspicaz olhar aquilino, ou seria felino, de lince? Ou de ambos, talvez? A frugalidade torna-se genialidade pelas mãos hábeis da poeta.

Entre versos inéditos e outros já publicados/conhecidos, Bernadete aborda e explora um universo de temas, desde a solidão, a mulher forte, o carinho da mãe, o amor, o romance, o perfume nectarino das flores, a gratidão, o perfume mélico das tâmaras, o aroma do perfume que se esvai, quando quebra o frasco, o sol, o café... e brinda-nos e brinca com as palavras, feito criança alegre assoviando, correndo descalça, leve e livre por entre espaços taciturnos (coisas de gente grande!).

O universo poético da autora é vasto em reflexões, em nos orientar e nos alertar para o carpe diem, e a todo instante sinaliza para os “segredos” do bem viver; segredos estes desvendados para um leitor, que como ela, sabe que na vida

“...Bom mesmo é ver o outro com sorriso estampado na cara, em resposta ao que recebeu.

Bom mesmo é bom-humor e amor, aquele espontâneo, de verdade, o amor Amor...

Bom mesmo é a risada feliz e parceira, sem peias, feito porta aberta, feito pássaro livre, sem gaiola, na imensidão do céu...”

Bom mesmo é a reciprocidade, é ler algo e reconhecer-se e identificar-se com o que se lê. Bom mesmo é perceber que a autora é “gente como a gente”, que passa por sofrimentos, dores, que sonha, que supera adversidades, que anda de bicicleta, que ri, contempla (não apenas como mera espectadora), mas como alguém que com generosidade, sensibilidade e sabedoria, constrói sua própria história, registrando-a criativa, elegante e deliciosamente, como em A jovem e a menina:

“... A menina que não é mais menina e a jovem que não é mais jovem continuam a preservar a empatia, a amizade, e a partilhar sonhos e planos.

A menina encalorada, suarenta e empoeirada metamorfoseou-se e se aformoseou, ainda mais faceira, sonhadora e diligente - Sinop!

Maravilhosa Sinop, que a jovem a conheceu ainda criança, menina fagueira!...”

Através de uma descrição tão rica e comovente da avenida central da cidade de Sinop (que contrasta aspectos do hoje e de outrora) mergulhamos em um oceano nostálgico evidenciado pelo talento da autora, onde as histórias da jovem (Bernadete) e da menina (Sinop) se entrecruzam, se integram e se complementam e conferem força, vigor, autenticidade e frescor à fluência poética do eu lírico no percurso da narrativa.

As vicissitudes em sua vida contribuíram para lapidar a escrita de Bernadete. E agora nos deparamos com Poesia para um livro, uma explosão cinestésica, na qual somos convidados a saborear cada composição como se fôssemos sorver a derradeira gota daquele precioso néctar contido na exuberante taça. Estendo-vos o convite para saboreá-lo paulatinamente.

Intensamente.

Reiteradamente.

Inadvertidamente.

Divertidamente.

Sem qualquer moderação!

 

Romeu Donatti

Sinop-MT, 30 de março de 2023.

Comentários

Parabéns pela aguçada interpretação da obra!

Enoque Gabriel | 05/04/2023 ás 07:40 Responder Comentários

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