PRANTO

 

Sou o eco dos meus passos solitários

Quebrando o etéreo silêncio da noite.

 

Sou o vazio da rua, na madrugada,

O frio que gela as entranhas

Da alma abandonada.

 

Sou o gemido preso na garganta,

A mudez do não amar, que espanta,

O grito contido,

O medo que angustia, o vento que assobia,

A noite negra, a lua que espia

Atrás das nuvens, e some, alucinada.

 

Sou o projeto de ontem

Sonhando o amanhã,

 

Sou o aborto dos meus próprios planos,

O anoitecer, o fim, a vã

Filosofia, o delírio, a mentira,

 

Sou a lira que chora, sou a ira.

 

Sou o estertor na tentativa última

De salvar o que perdi,

O que não fiz, o que não quis;

De reter o que se vai,

O que se foi, inexoravelmente,

Além da dor, além do amor, além da vida.

 

Eu sou o eco solitário dos meus passos

Quebrando o silêncio da noite etérea

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