Pensamentos esquecidos

Contos | 2024 Mensagens de reflexões e prosperidades | Manoel R. Leite
Publicado em 22 de Janeiro de 2024 ás 17h 08min

Em um domingo qualquer busquei a organizar o meu espaço, hábito mantido a longas penas nos finais de cada ano. Seria quase um mantra, ou quem sabe um simples “dar espaço para o novo”, pelo menos era isso que se falava sobre tal situação. Não sei quando isso começou em mim, contudo, era mais uma obrigação moral, sem grandes reflexões, ou ainda empenho. Feito de uma maneira hora mais atenta, hora mais distraída. Assemelhando-se muito aqueles dias que assistimos filmes de corpo presente, parecendo que uma força dominadora de impele a tal insignificante ato. Mas deve ser feito independe da vontade. Aquela manhã não fora diferente, tudo organizado, ou seria desorganizado para que nada atrapalhasse o feito homérico de um ato banal. Nem um compromisso que justificasse o adiamento, apenas o pensamento em ações futuras. Afinal, o final do ano se aproximara, e, como muitos trabalhadores cansados do trabalho, da monotonia, ou até mesmo da existência tudo se tinha pressa, como se o chegar ao fim de algo que não se sabe muito bem o que.

Inicialmente segui o palpite de selecionar o que seria mais fácil, objetos de uso que caíram em desuso. Promoções imperdíveis de entulho acumulado. Como que por convencimento irracional, acreditando que algo que não se precisa, visto que nunca se teve em mãos bugigangas que prometiam tanta coisa. Pareciam até a pedra filosofal antes da compra, ao chegar lembravam curiosidades que não valiam o esforço de abrir um espaço no armário para o seu uso. E, nas primeiras semanas ficariam bem visíveis, como um troféu sem valor que ilustra os móveis porque não se encaixa em nenhuma gaveta. Mas com o tempo seria um objeto a mais no museu dos utensílios inúteis adquiridos na publicidade de consume.

_ Seria bom uma liquidação de garagem? _ Explanei minha ideia.

_ Pena que não temos essa tradição aqui. _ Afirmou a minha esposa na cozinha.

Não se empolgando muito com a ideia, apenas uma breve afirmativa sobre a inviabilidade da magnífica ideia. Mas como sendo um exímio procrastinador não pude evitar a oportunidade de ir até ela. E, obvio beber um café para adiar um pouco mais o serviço. Essa jornada perdurou muitas vezes, ou até encontrar um novo objeto maravilhoso para venda, e, por incrível que pareça até alguns manuais de uso de utensílios já não usados.

Como tudo na vida que realmente importa parece a primeira vista se governado ao acaso. Entre velhos manuais e notas de compras, encontrei um envelope especialmente comum. Nada de mais por fora apenas um conteúdo que fugira daquele caos, como uma explosão de vida na imensidão escura do cosmos meu interesse elevou-se.

Naquela tarde após o almoço não procrastinei, nem muito menos criei outros compromissos “importantes”. Apenas me pus a rever aquele envelope e realmente viajar em seu conteúdo. Entre uma atividade e outra pequenas linhas de um antigo trabalho escolar. Como trabalho feito quando criança pode impactar tanto a vida de um adulto.

O trabalho em questão era do quinto ano do ensino fundamental. Inspirados em um daqueles filmes que os alunos criam uma caixa do tempo o professor propôs que escrevêssemos três frases para nós mesmos para vinte anos no futuro. E, foi isso o que fizemos. Não me lembro o fato por não ter construído a capsula e enterrado no terreno da escola. Acredito que ele não recebera autorização para tal, ele ficou pouco tempo com a gente talvez seria apenas um substituto querendo deixar a sua marca. O que importa que graças a ele ou sei lá, por causa dele mesmo sem nenhuma graça em si estava eu agora com aquele envelope amarelado e um monte de pensamento na cabeça.

_ Está tudo bem? _ Perguntou minha esposa.

_ sim tudo. _ Respondi sem lhe dar muita atenção.

_ Você está bem quieto, o que andas pensando?

_ Nada não. Só encontrei um envelope antigo.

_ O que se trata?

Não sei se queria falar muito, não tinha nada de errado. Mas os meus pensamentos flutuavam de um lado para o outro, como um balão de ar quente, sem nenhuma tripulação. Pensei mais um pouco e comentei que era um trabalho de escola de exatamente vinte anos. O que a deixou mais interessada, agora sim a sua curiosidade não mais me permitiria ficar a deriva com os meus pensamentos. Sei que não cumpri tudo aquilo que estava no envelope, ninguém cumpri tudo mesmo. Mas é a vida, os sonhos nem sempre segues as mesmas cores quando se materialização. Então ela fez a pergunta fatiga.

_ O que está escrito dentro do envelope?

_ Apenas três frases para eu ler no ano que se inicia, é isso mesmo essa carta é para 2024. Encontrei justamente as vésperas da data. Acho que o correio não seria mais preciso na entrega. _ Brinquei com a minha surpresa.

_ Então quais são as frases? _ Perguntou ela ainda mais curiosa.

Li então em voz alta as três frases que rondavam entrelaçadamente os meus pensamentos.

_ As 3 frases que eu deveria ler em 2024 são:

“Só é próspero aquele que persiste”;

“Vim, vi e Venci”; e,

“Um guerreiro da luz não teme a escuridão”.

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