Quando criança, ouvia pessoas dizerem: "Ser pai é ser um herói". Então, eu ficava imaginando o meu pai com roupas de super-herói, máscara, poderes mágicos, que pudessem fazê-lo voar pelo céu; ou estar num instante aqui e no outro desaparecer; ou ainda me salvar de todos os perigos do mundo.
      Na minha cabeça surgiam muitas ideias. Então fui crescendo.
       No entanto, eu apenas via meu pai trabalhar, de sol a sol, sair bem cedinho de casa e só voltar à noite, estar muitas vezes enfermo e, assim mesmo, não deixar de trabalhar, chegar em casa depois de um dia cheio e ainda fazer o jantar. Eu não via nenhum sinal de herói no meu pai.
      Outras vezes, percebia meu pai cabisbaixo e chorar sem reclamar, também não ter tido oportunidade de estudar, mas me ensinar tantas e tantas coisas. Eu não via nenhum sinal de herói no meu pai.
      O tempo foi passando... passando...
      E eu observava meu pai sendo honesto para com as outras pessoas, tudo o que pegava emprestado ele devolvia, não ficava devendo dinheiro a ninguém, não maltratava nenhum ser humano, fazia caridade, amava os animais e a natureza. Desse jeito transmitia os valores da vida, mas eu não via nenhum sinal de herói no meu pai. 
          Um dia, eu cresci, saí de casa, construí um lar e me tornei pai. Só então percebi o quão herói meu pai sempre foi, pois fez com que eu me tornasse quem eu sou e pude observar em cada gesto, em cada ação, em cada valor que tenho, os traços do meu pai.
          Hoje, meu pai está velhinho, tem a pele do rosto e das mãos enrugada, o cabelo é branco como uma nuvem.      
          Hoje, tenho a ciência de que ele não usa máscara, nem roupa de super-herói, também não possui poderes mágicos. E não precisa. Porque meu pai é um herói, não pelo que veste, mas pelo caráter que ele tem.