Seu Raimundo tinha um sítio, onde morava com Dona Francisca, a sua esposa, e seus três filhos, Antônio, Cícero e Ana.
O lugar era humilde, simples, mas limpo, bem cuidado e muito organizado. A casinha de madeira ficava ao lado do pé de manga enorme, que cobria a casa de sombra. No fundo do quintal, uma pequena horta com legumes e verduras. Algumas árvores frutíferas formavam o pomar, que tinha um pouco de tudo o que a família precisava: pitomba, araçá, mangaba e o gigantesco cajueiro.
Um pouco mais distante, um pequeno galpão guardava algumas sacas de milho, feijão e arroz, tanto para o consumo da família quanto para os animais, que Seu Raimundo criava: galinhas, porcos e a vaquinha Mimosa. Ainda tinha o Sansão, o Dourado e o Ousado, três cachorros perdigueiros, frutos de uma ninhada da cadela Fifi.
Seu Raimundo trabalhava no pequeno roçado todos os dias. Junto dele iam os filhos, quando não estavam na escola, e Ousado, seu companheiro fiel. Onde Seu Raimundo andava, Ousado estava atrás e era assim desde muito filhotinho. Dona Francisca cuidava da casa, varria o quintal e se preocupava com sua estimada horta.
A felicidade morava junto deles. A família era alegre, unida e protetora.
De vez em quando, Seu Raimundo ia até o canavial, que cultivava um pouco mais distante do sítio. Geralmente ia sozinho, melhor dizendo, junto de Ousado, que não largava do seu pé. Ia de manhã cedo, quando seus filhos estavam na escola, por isso seu único companheiro era o escoteiro cão e amigo inseparável.
Certa vez, quando voltava da lida no canavial, Seu Raimundo parou para descansar na sombra de um umbuzeiro, já que o sol das 11 horas queimava o chão ardente e também sua cabeça.
Sentado no cabo da enxada, Ousado chegou a sua frente, começou a se arrepiar todo, o rabo ficou erguido para cima, rosnava sem parar tendo os olhos fixos em Seu Raimundo. O animal parecia querer investir contra o próprio dono, a quem tanto amava.
Pensando em empunhar a peixeira da cintura, Seu Raimundo ameaçou em se levantar e atacar o Ousado, pois pensou que seu cão estava louco.
Nesse instante, Ousado pulou ferozmente em cima de uma cobra cascavel, que estava ao lado de Seu Raimundo.
Numa luta alvoroçada, Ousado mordeu a cobra com toda sua força, mas a cobra também picou o cão numa de suas patas traseiras. Porém, ao final, Ousado conseguiu matar a cobra venenosa.
Seu Raimundo, pasmo de emoção pelo ato corajoso de Ousado, e tomado de vergonha em querer matá-lo, carregou Ousado em seus braços e voltou para casa.
A pata de Ousado começou a inchar bastante, mas os cuidados de Dona Francisca fizeram com que, dia após dia, o ousado cão ficasse bom e curado.
Passado algum tempo, Ousado voltou a correr pelo sítio e a acompanhar Seu Raimundo por todos os lados.