OURO PRETO

Prosa Poética | Iziz De Andrade
Publicado em 08 de Abril de 2022 ás 17h 55min

OURO PRETO

 

Encostada na parede de pedras desta mina de carvão , toda arrumadinha para visitação, fico pensando quantas histórias já se passaram por aqui e na nas vilas carvoeiras de muito tempo atrás.

Não as histórias contadas nos livros, mas, as histórias comuns. Amores, dramas, desencontros, tristezas, alegrias.

Como viviam a uns 60, 80 anos atrás? O seu dia a dia, as suas lutas...

As noites, será que perdiam o sono como eu? Será que se questionavam sobre o porquê das coisas? Sonhavam com o que? O que fazia seus corações baterem mais rápido?

Imaginando a vila... posso ver crianças sorrindo, correndo despreocupadas estrada abaixo.

Ouvir suas mães, as que ficavam na vila, aquelas que não trabalhavam nas entradas das minas, as “Escolhedeiras”, entre uma conversa ou outra com a vizinha da frente, gritando: -Volta cá menina travessa, você vai se machucar.

E ela voltando a falar com a vizinha: Essas crianças...

O cheiro de pão quentinho se espalhando pelo ar.

Os maridos, os filhos, os irmãos  chegando sujos, cansados depois de horas e horas nas minas de carvão. Com cheiro de cerveja barata da vendinha da esquina .

Esse tipo de vida, cheia de vida, escassa vida.

Difícil, pobre. Onde um tostão era suado. Cada moeda trazia o gosto do carvão na boca, o pulmão corroído de tantas impurezas, já sentindo o efeito do início da pneumoconiose. As mãos calejadas, as pernas e as costas já arcadas de tanto peso, de tanto se abaixar pra minerar.

O cheiro da roupa poída, lavada com pouca água, já contaminada com o óxido de enxofre, na tina de madeira.

E a desesperança estampada no olhar. Por saber que era aquilo ali suas vidas e nada mais

 Tinha sido a vida de seus pais, eram as suas e seriam de seus filhos. Uma aceitação de que a vida era assim. Uma risada forçada, com dentes amarelados,  uma labuta danada quase pra nada, somente sobreviver.

A natureza em volta arfando com os dejetos espalhados, que quando misturados ao ar e a água entravam em combustão e liberavam o gás sulfúrico e hidróxido de enxofre, gases estes tóxicos, corrosivos e cancerígenos.

As riquezas exploradas por trabalhos quase que escravo, com tantos perigos, onde a média de vida útil de trabalho do mineiro era curta,  15 anos, se muito. Quando não eram pegos de surpresa e ali mesmo tombavam quando a mina desabava.

Quantas vidas, quantos sonhos, todos enterrados na extração do minério, o ouro preto da nação.

Um trabalho braçal, desumano, até que viessem as máquinas modernizando, humanizando. Será?

Então sou interrompida em meus devaneios, o guia acaba de chegar, no trenzinho limpo e brilhante que irá nos levar no passeio de uma mina linda, limpa, iluminada. Tão bucólica.

A moldura da história e do tempo faz o quadro todo  ficar lindo e romântico.

 

 

 

 

Comentários

Muito bem elaborado! Parabéns! Palmas para você!

Enoque Gabriel | 08/04/2022 ás 18:17 Responder Comentários

Amoooo

| 08/04/2022 ás 18:27 Responder Comentários

Lindo...

Anny | 08/04/2022 ás 18:34 Responder Comentários
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