"Onde o Vento Leva a Dor"
Crônicas | 2025 - ABRIL - Folhas ao vento: fragmentos de outono | Rose CorreiaPublicado em 21 de Março de 2025 ás 07h 36min
"Onde o Vento Leva a Dor"
Ela caminhava por entre as árvores do bosque, num silêncio indescritível. O coração quebrantado pesava em seu peito, e seus olhos, brilhantes como um oceano revolto, carregavam o reflexo de um sentimento que ninguém poderia alcançar. O vento roçava seus cabelos, trazendo o cheiro da terra úmida e das folhas caídas. Ela nada dizia. Apenas seguia, em passos pesados, como se cada movimento exigisse um esforço imenso.
O sol tentava alcançá-la entre o vai e vem das folhas que se deixavam levar pelo vento. O bosque parecia respirar junto dela, atento ao seu sofrimento. Os animais a observavam ao longe, como se percebessem que sua energia estava desalinhada com a natureza. O rio, que corria lentamente, murmurava baixinho, testemunhando seu caminhar enquanto ela cruzava a velha ponte de madeira, cujos rangidos quebravam a monotonia do silêncio.
Enquanto andava, as lágrimas deslizavam silenciosas, lavando seu rosto inocente. Dentro de si, sabia que não poderia compartilhar suas dores com ninguém. O bosque, com seu acolhimento silencioso, era seu único refúgio. Ali, podia deixar que sua tristeza fluísse sem julgamentos, dissolvendo-se no sopro do vento e no balançar das árvores.
Ao completar seu percurso, respirou fundo. Sentia-se mais leve, como se o bosque tivesse absorvido um pouco de seu peso. O sol, que antes a buscava entre as folhas, agora aquecia suavemente sua pele. Com passos mais firmes, voltou para casa, e um belo sorriso surgiu em seu rosto — não porque a dor havia desaparecido, mas porque, por ora, o bosque a tinha ajudado a carregá-la.
Crônica Poetica. Rose Correia.