O VISITANTE DA VÉSPERA

Poemas | 2025 - DEZEMBRO - Luzes e esperanças: Histórias e poesias para aquecer o Natal | Amanda Mazzei
Publicado em 29 de Março de 2025 ás 14h 54min

A neve caía devagar, pintando as ruas de branco enquanto as luzes tremeluziam em cada janela. Era véspera de Natal, e a cidade inteira se enchia de risos e canções. No casarão antigo da Rua Hollow, porém, o silêncio reinava.

Márcio, um homem solitário e cético, sentou-se diante da lareira, girando um copo de uísque entre os dedos. O Natal não lhe dizia nada. "Apenas um teatro anual de bondade fingida", pensava.

Foi então que três batidas secas soaram à porta.

Ele franziu o cenho. Quem bateria àquela hora? Abrindo-a com hesitação, encontrou um homem de rosto calmo, mas com olhos profundos. Ele usava um manto simples, e a neve se acumulava em seus ombros.

— Preciso de abrigo — disse o homem, sua voz suave, mas firme.

Márcio hesitou. Algo naquele homem lhe causava um arrepio estranho, mas, com um suspiro impaciente, cedeu e o deixou entrar.

O homem se sentou perto da lareira, observando as chamas dançarem.

— Você não celebra o Natal? — perguntou João, com um tom curioso.

— Apenas um dia como qualquer outro — Márcio respondeu, sem dar muita importância.

João sorriu de forma enigmática.

— Há muitos séculos, alguém também pensou assim. Recusou abrigo a uma família cansada, sem saber que negava ao próprio milagre o direito de nascer.

Márcio riu, sem humor.

— Quer me dar uma lição?

João não respondeu. Apenas ergueu a mão, e Márcio viu algo brilhar em sua palma. Não ouro, nem prata… mas uma pequena chama azulada, que parecia viva.

— O que é isso?

— O que foi negado. O que ainda pode ser aceito.

De repente, Márcio se viu em outro lugar. As ruas estavam escuras, o frio cortante. Crianças dormiam sobre papelões, velhos olhavam as vitrines cheias de ceias inacessíveis. Pessoas passavam, indiferentes. O vazio era sufocante.

João sussurrou:

— O Natal não é um dia. É um ato. Uma escolha. Você ainda pode fazer a sua.

A cena se desfez. Márcio estava de volta à sua casa, mas o visitante havia sumido. Apenas um pequeno brilho azul permanecia na lareira, pulsando como um coração.

Na manhã seguinte, a cidade foi surpreendida. O velho casarão, antes fechado, agora acolhia os sem-teto. Comida, cobertores, risos. Márcio, o homem cético e solitário, havia encontrado o Natal.

E, pela primeira vez, ele sentiu que não estava sozinho.

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