O TRABALHO NA PERSPECTIVA DA FILOSOFIA (publicado na obra UNEMAT 40 Anos – 2020, Ações Literárias Editora)

Cordel | Josivaldo Constantino dos Santos
Publicado em 09 de Agosto de 2022 ás 19h 10min

O TRABALHO NA PERSPECTIVA DA FILOSOFIA

São várias as dimensões

No Homem, a situar

Homo sapiens, homo volens

Homo ludens (que é jogar)

Homo loquens, religiosus

E Homo faber (o trabalhar).

 

O Homem, é, pois, artífex

De formas, é criador

Dentre as suas dimensões

De obras é fazedor

Sua natureza o define

Como um operador.

 

O trabalho e a Técnica

No Homem, evoluiu

E o tornou diferente

Das espécies que existiu

E se tornou realidade

Quando o fogo descobriu.

 

A descoberta do fogo

Uma conquista seria

Pois o Homem se destaca

De outros seres que havia

Pois passa a utilizar

O fogo como energia.

 

Com a descoberta do fogo

Um fenômeno genial

Todo o trabalho humano

Que antes era “manual”

Passou à esfera elevada

De trabalho “artesanal”.

 

Da Natureza, o Homem

Era mero coletor

Com a descoberta do fogo

Muito adiante Ele saltou

Não só apenas colhia

Passou a ser produtor.

 

Ele passa a produzir

Pra suprir necessidade

Pra sua sobrevivência

E somente muito mais tarde

Para manter seu conforto

E a sua comodidade.

 

Na história do trabalho

Há dois períodos sem igual

O trabalho com utensílio

É o trabalho artesanal

E utilizando a máquina

O trabalho industrial.

 

Mudanças vão ocorrendo

Na esfera do labor

Com novas técnicas surgindo

O trabalho agrega valor

São mudanças decisivas

No trabalho e trabalhador

 

Mudanças quantitativas

No quesito produção

Vapor, eletricidade

Petróleo, energia, então

O trabalho propicia

Ao Homem, a evolução.

 

Entre o Homem e a Natureza

Se estreita a relação

Pela força do trabalho

Vem a socialização

A cidade e o campo

Crescem em grande progressão

 

Trabalho é planejamento

Com racionalização

Onde está o trabalho

Há muita concentração

De pessoas, e isso gera

Uma urbanização.

 

O Homem, ao trabalhar

Forma a sua consciência

Pois não trabalha sozinho

Essa não é sua essência

E ao atender as demandas

Do Outro, toma ciência.

 

O trabalho é atividade

De cunho material

Mas com uma dimensão

De cunho espiritual

Toda operosidade

Tem reflexo social.

 

Porém, além de trazer

Riqueza e organização

O trabalho traz ao Homem

Também a degradação

Quando a sua consciência

Só visa a exploração.

 

Se a consciência do Homem

Faz um recorte abissal

Entre o trabalho subjetivo

E seu alcance universal

Nessa dimensão moderna

O trabalho provoca o mal.

 

O filósofo Hegel, é quem

Faz essa observação

Do trabalho, questiona

Sua moderna divisão

Que a uns dá o domínio

E a outros, submissão.    

 

A visão do trabalho em Hegel

Provoca abalo geral

Pois na concepção burguesa

O lucro é fundamental

Com a propriedade privada

E a divisão social.

 

Para Hegel, o trabalho

Não é só satisfação

Das próprias necessidades

Mas é também a expressão

De um valor muito maior

No Homem, a humanização.

 

Hegel vem questionar

Essa histórica relação

Entre Homem e Natureza

Com base na exploração

O trabalho visto apenas

Como uma apropriação.

 

Pelo trabalho, o Homem

É visto como Senhor

Natureza é sua escrava

Ele, seu dominador

O trabalho não humaniza

Natureza e trabalhador.

 

Essa visão de trabalho

Tendo o Homem como Senhor

Hegel a coloca em xeque

Com veemência e rigor

E inverte essa lógica

Apontando outro valor.

 

Hegel apresenta o trabalho

Como uma essencial

Relação indissolúvel

De caráter universal

Uma atividade física

Criadora e social.

 

Agir sobre a natureza

É a força que o trabalho tem

Na ação de transformá-la

Diz Marx como ninguém

Que o trabalho transforma

O próprio Homem também.

 

E Marx vai mais além

Em sua reflexão

Todo o trabalho que é feito

Pro Homem, não é em vão

Pra existência do Homem

O trabalho é a condição.

 

Pelo trabalho, o Homem dá

Um salto existencial

Ultrapassa os outros seres

De um modo sem igual

Passa de um ser biológico

Para um ser social.

 

Porém, as contradições

Surgem a todo vapor

Por um sistema histórico

Que a burguesia criou

Esse sistema, diz Marx

Explora o trabalhador.

 

De instrumento de liberdade

E de socialização

O trabalho passa a ser

Uma desfiguração

Pois imprime no operário

A desumanização.

 

O trabalho dessa forma

Aliena de verdade

O operário é coagido

Com muita brutalidade

Vende ao patrão sua vida

E a sua humanidade.

 

No sistema do capital

As humanidades somem

O trabalho que exaltava

Agora a todos consomem

O Homem vira mercado

E o mercado vira Homem.

 

O que importa é a “mais valia

Que é o lucro excedente

Que está com a burguesia

A deixando bem contente

Enquanto o trabalhador

Leva uma vida demente.

 

Sua força de trabalho

É obrigado a vender

É mercadoria humana

Que está a sobreviver

O trabalho é sobrecarga

Que aumenta seu padecer

 

Exploração e desemprego

Sobre o trabalhador

A degradação do trabalho

Seja de que forma for

São estruturas basilares

De um sistema arrasador.

 

As relações de trabalho

Em termos contratuais

Onde aparentemente

Todos são livres e iguais

Favorecem ao empregador

Ao empregado jamais.

 

Na empresa e na indústria

Se exige competência

Mas o trabalhador recebe

Um salário de indigência

Para manter seu patrão

Acima da concorrência.

 

Entre salário e capital

É grande a contradição

Pois quanto mais se produz

Fortalecendo o patrão

O trabalhador se enfraquece

Em sua mesa falta o pão.

 

A miséria se propaga

Em meio a abundância

O acúmulo de capital

Acima de toda instância

A fartura gera a miséria

Tendo por base a ganância.

 

Milhões de despossuídos

Boias frias no Brasil

De mão de obra baixíssima

Com um salário muito vil

Engrossam o mapa da fome

Dessa pátria varonil.

 

O avanço tecnológico

Globaliza a produção

E a riqueza é concentrada

Somente em poucas mãos

Ao trabalhador só resta

A intensa exploração.

 

No fordismo e taylorismo

O corpo era mecanizado

Era de casa prá fábrica

Tudo bem disciplinado

Vida social não havia

Pro trabalho era formado.

 

Este atual modelo

Quer mecanizar a mente

Atinge o imaginário

E também o inconsciente

E torna o trabalhador

Disperso socialmente.

 

Sumiu o operário “massa”

O trabalho é pulverizado

O operário é “avulso”

Fácil de ser dominado

O trabalho é pontual´

E individualizado.

 

Pequenas e micro empresas

Por células de produção

Se estabelecem nos lares

Modificam a relação

O espaço da família

Virou negociação.

 

A casa virou empresa

Cônjuge virou empresário

Sala, fábrica de negócios

O lucro é o itinerário

O capital tomou conta

Do nosso imaginário.

Comentários

Parabéns, poeta! Um poço de cultura! Bravo!

Enoque Gabriel | 09/08/2022 ás 21:20 Responder Comentários

M A R A V I L H O S O....

Solange | 17/08/2022 ás 20:35 Responder Comentários
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