O preço da felicidade!

“Como posso ser feliz/ Se ao pobre meu irmão

Eu fechei o coração/ Meu amor eu recusei?...

(Irene Gomes e Rita de Cássia Ribeiro)

Como posso ser feliz

se o vento não é brisa, parece furacão

se o som da poesia é só melancolia

se o brado de tristeza é a minha poesia

se no desencanto fechei o coração?

Como posso ser feliz

se na tarde fria o sol se esconde

se com as ondas do mar me sinto tão mal

se não consigo remar nesta minha nau

se eu peço socorro e ninguém responde!

Como posso ser feliz

se a saudade do poeta é pesar, nostalgia

se a paixão é motivo de desdém, repulsão

se as cores estão turvas é só turbação

se as juras de amor eram só fantasia!

Como posso ser feliz

se os sentimentos já não são de amor

se murcharam as flores do jardim

não há rosas, nem cravos ou jasmim

só há traumas, colapsos, remidos de dor?

Como posso ser feliz

se o que passou é tempo perdido

se as vidraças foram quebradas

se as mãos feridas foram celebradas

se os papéis estão invertidos?

Como posso ser feliz

se as lembranças são todas furadas

se as feridas já não são mais descritas

se as palavras são todas malditas

se as almas não são lembradas?

Como posso ser feliz

se na calada da noite

se sob a marquise na calçada

se ali dorme alma desamparada

se ali morreu com fome, no frio, puro açoite?

Lorde Égamo