O Português Contemporâneo e as Dinâmicas da Linguagem Inclusiva

Pensamentos | Carlos Roberto Ribeiro
Publicado em 23 de Março de 2024 ás 07h 55min

O idioma português, longe de ser uma entidade estática e imutável, deve ser compreendido como um sistema em constante evolução, moldado tanto pelas dinâmicas históricas quanto pelas práticas sociais. É um erro considerá-lo como um patrimônio a ser rigidamente preservado, posto que as línguas servem essencialmente como instrumentos de comunicação, adaptação e expressão cultural dos povos.

 

Historicamente, a língua portuguesa, como várias outras, compõe o legado de processos colonizadores. A imposição de tal idioma no Brasil, por exemplo, implicou o eclipsamento de uma multiplicidade de línguas indígenas, além de relegar a marginalização cultural e linguística de comunidades escravizadas trazidas de diversos cantos da África. Esta configuração linguística colonial ignora a diversidade e complexidade das expressões autóctones e das práticas comunicativas preexistentes.

 

Não obstante, o português, ainda em uso e evolução, não pode ser equiparado a línguas antiquadas, como o grego koiné ou o aramaico, que cessaram suas evoluções naturais. A vitalidade do português está intrinsecamente ligada à sua capacidade de absorver e refletir as mudanças sociais. Neste cenário contemporâneo, uma dessas transformações diz respeito à emergência e ao reconhecimento das discussões sobre a linguagem neutra ou inclusiva.

 

A linguagem inclusiva, em seu ímpeto de promover uma maior equidade e reconhecimento da diversidade de gênero, desafia as normas gramaticais tradicionais que historicamente perpetuam estruturas de poder binárias e excludentes. A proposição de pronomes neutralizados, a flexão de gênero em substantivos e adjetivos, e outras modificações gramaticais, são mecanismos que buscam a representatividade linguística de identidades fora do espectro binário de gênero.

 

Essa onda de inovações linguísticas suscita debates acirrados no meio acadêmico e entre puristas da língua, que veem na linguagem neutra uma ameaça à integridade do português. No entanto, é fundamental entender que o português, como qualquer língua viva, está em perpétua negociação com seus falantes e, dessa forma, deve ser receptivo a mudança.

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