O Navegar em Tempos Fluidos.
Crônicas | Antologia Eidi Martins e convidados - Páginas Poéticas | ValcastilhoPublicado em 16 de Abril de 2024 ás 10h 33min
O genial Fernando Pessoa, em sua poesia, navegar é preciso, lembra a frase do general romano Pompeu "Navegar é preciso; viver não é preciso". Por certo, nem Pompeu, nem Fernando Pessoa, poderiam imaginar o quanto a palavra “navegar”, mudaria o sentido no século XXI, passando a fazer parte do nosso dia a dia, onde é possível navegar da sala, do quarto, da cozinha, bastando para tanto, ter apenas um aparelho eletrônico portátil, conectado à rede mundial de computadores.
Sim, somos todos navegantes no século XXI, sem nau, sem porto de saída, sem ninguém nos esperando na chegada. Em poucos segundos, navegamos por qualquer lugar do mundo, somos capazes, com a ajuda da inteligência artificial, de conversar razoavelmente, em russo, árabe ou mandarim, sem nunca ter estudado um dia, tais idiomas.
Navegamos necessariamente todos os dias, em mares raivosos, cheios de perigos e emboscadas, tão cheios de monstros marinhos e piratas carniceiros, como eram os mares que desbravava Pompeu ou Cabral.
Hoje navegar não é escolha, é sobrevivência. Ou se aprende a navegar nas redes e a se defender dos hackers, das fraudes, das fake News, ou viajará à deriva, e a deriva levará a vida.
A pós-modernidade trouxe o mundo digital, no toque suave dos dedos, da velocidade 5G, que liquidificou o mundo, e hoje, o mar está em todo o lugar.
Navegando, é que hoje encontramos a nossa Dulcineia, tão formosa e dotada de qualidades on-line, tão real, frágil e vulnerável quanto Dom Quixote, voltando à realidade e vendo o mundo off-line.
É também navegando que lutamos com os algoritmos, os moinhos de vento da nossa existência, que a todo momento aparecem em nossas telas de navegação, tentando nos vender geladeira, carros, chinelos e algo que nunca usaremos, mas que o monstro nos enfeitiçou a comprar.
Para Fernando Pessoa, em seu século existencial, navegar significava “engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade. Para nós, navegar parece um caos, de egos, superegos, desinformação, fases de uma guerra cruenta e solitária, que lutamos sozinhos, atrás de nosso leme virtual.
Navegar é preciso, e já não podemos parar, nem que queiramos!
Comentários
Que bela crônica! A analogia que faz entre os mares bravios e a rede internacional de computadorees é perfeita! Parabéns!
Égamo | 16/04/2024 ás 19:16 Responder Comentáriosobrigada pela leitura, e observação.
Valcastilho | 18/04/2024 ás 18:48 Responder ComentáriosOs velhos navegantes das aguas, enfrentando dias e noites, longe de seus lares, na busca por aprendizados, enfrentando tantos perigos, mal sabiam que alguns anos a sua frente, outros navegantes teriam tantas formas de se aprender sem sair de seu conforto, porem não escapariam de tantos e novos perigos tão nocivos quanto os enfrentados nas aguas.
Eidi Martins | 22/06/2024 ás 19:42 Responder Comentários