Deixa o pântano
Esgueira-se pela neblina
Rasteja
Finge-se de morto
Na surdina
Desponta
Assusta
Assombra
Inflama
Esbraveja
O trono, almeja
Proclama
Insufla
Festeja
Será um ogro ou um messias?
Aguarde o desenrolar dos dias...
Jogam-se os dados
A sorte foi lançada
Sobe a serpentina
Segue a escalada
É drama ou comédia?
É facada ou fachada?
A fumaça se espalha
por detrás da cortina
Quem permanecerá acima?
O verde poder domina
O povo sofre desventura
É tão dura essa sina!
De onde vem tal criatura???
Parte a venera, outra a abomina
Sua fanfarronice, alucina
Sua palavra, verborragia
Sua atitude, demagogia
Entretanto o aplauso
Trepida com alegria
A patuleia tem o que merece?
Ou o grito a entorpece?
Nem sempre!!!
Nem sempre, quem cala consente
O revide ou uma prece?
Qual artimanha é mais decente?
O silêncio é arma do descontente
Acorda, acorda minha gente
Enquanto é farta a roubalheira
Vera Cruz desce a ladeira
Vilipendiada e doente!
Uma bala de prata?
De madeira uma estaca?
Como, afinal, um monstro se reprime?
Abaixo as armas, minha gente!
Para ludibriar a ignorância
Há maneira mais eficiente
Educação e inteligência
São o melhor expediente!
Muito cuidado com a tomada da pastilha
Siga à risca a receita matutina:
Aos jacobinos, café e aspirina
Aos girondinos, metanfetamina
Aos ambidestros, uma lamparina
Há luz no fim do túnel?
Ao povo, falta pão com margarina
Que tal, para a dor crônica, morfina?
Aos lacaios, abunda, a propina
Aos vermes, dê-lhes Ivermectina
Aos acéfalos, nem mesmo a guilhotina!
Livro: A sombra dos cinamomos