O menino e o touro

Infantil | Neiva Guarienti Pagno
Publicado em 16 de Setembro de 2022 ás 22h 46min

Esta é uma história verdadeira entre um menino e um touro.

Luiz era um garoto de quatorze anos. Já era adolescente, mas como tinha o corpo franzino e miúdo aparentava ser um menino ainda. Ele sempre foi muito apaixonado por animais e, na fazenda onde morava com os pais e seus irmãos, vivia cercado de cachorros, gatos, vacas, porcos, galinhas, ovelhas, cabras, enfim.

Luiz ajudava os pais na lida da fazenda, pois eram funcionários daquele lugar. Trabalhava bastante, porém sempre arrumava um tempinho para brincar, cuidar dos animais e correr livremente. O menino se sentia imensamente feliz.

Certo dia, a vaquinha Pretinha, xodó da fazenda, pariu um bezerro malhado, que desde o nascimento fora tratado na mamadeira por Luiz, já que o animalzinho bebia pouco leite nas tetas da mamãe Pretinha. O menino batizou o bezerro de Bordado.

Bordado era obediente e muito mansinho. Os dois amigos eram cúmplices nas brincadeiras e viviam bastante tempo juntos. Um apreciava a companhia do outro.

Quando Luiz chamava seu parceiro pelo nome, o bezerro se aproximava docilmente esperando um carinho na fronte. Quando o garoto pedia para o animal se deitar, Bordado obedecia. O menino também retribuía os carinhos: lixava os cascos, os chifres e dava banho de mangueira com sabão. Bordado ficava feliz.

Luiz foi crescendo e Bordado também. Ambos, cada vez mais próximos, tornaram-se companheiros fiéis para todos os momentos.

Com o passar do tempo, o garoto também começou a montar no animal e andava pela fazenda com o amigo: passeava, carregava mantimentos, ia matar formiga e outras coisas. Para isso, não usava sela nem estribo. Na verdade, a montaria era no próprio pelo do animal.

Numa bela manhã, Luiz e seu pai foram levar uma boiada para comer em outro pasto. O pai foi a cavalo e Luiz montado no Bordado. Enquanto Luiz e Bordado andavam pela estrada, muitos caminhoneiros paravam para ver aquela tão inusitada cena. Muitos até pegavam seus celulares e tiravam foto para registrar o momento. Luiz e Bordado sentiam-se importantes.

Bordado viveu ao lado do amigo por cinco anos. Já era um touro forte, robusto e bonito, entretanto continuava dócil, amável e companheiro.

Contudo, certo dia, o patrão da família de Luiz decidiu vender o animal. Como Bordado já pesava 1200 quilos, certamente daria uma boa quantia em dinheiro, montante que a família do garoto não teria nunca para comprar e ficar com o animal.

 Quando o caminhão boiadeiro chegou na fazenda para levar Bordado embora, Luiz precisou ajudar a carregar o próprio amigo.

Na despedida, Bordado olhou fixamente para os olhos do garoto, lambeu a mão do amigo, virou as costas e entrou no caminhão, que seguiria rumo ao frigorífico. Parecia que o animal sabia que nunca mais os dois iriam se ver novamente. Era uma viagem sem volta.

Luiz não pôde evitar a partida do amigo, porque o touro não era seu. Ele cuidou do Bordado desde que nascera, entretanto sempre soube que ele era um dos animais da fazenda e, a qualquer momento, o patrão poderia vendê-lo. E assim o fez.

Enquanto o caminhão partia, as lágrimas escorriam pelo rosto do garoto, que não pôde salvar o amigo da grande tragédia.

Bordado hoje vive apenas nas fotos e nas lembranças do amigo Luiz.

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