O Medo Branco: A Ansiedade Diante da Perda do Poder

Pensamentos | Carlos Roberto Ribeiro
Publicado em 03 de Fevereiro de 2025 ás 11h 47min

O racismo não é apenas um sistema de opressão, mas também um edifício de privilégios construído sobre um alicerce de medo. O "medo branco" não se refere a um temor abstrato ou irracional, mas a uma reação visceral e histórica diante da possibilidade – real ou imaginada – de perda do domínio, da centralidade e do controle sobre narrativas, espaços e oportunidades. Ele não é novo e tampouco passageiro: é um fantasma que atravessa séculos, moldando políticas, discursos e comportamentos.

 

Esse medo não surge do vácuo. Ele é fabricado e reforçado por ideologias que naturalizaram a hierarquia racial. Quando populações negras escravizadas foram libertas, não se rompeu apenas um sistema econômico baseado na exploração; desafiou-se a crença na subalternidade dos corpos negros. A resposta a esse desafio foi imediata: leis segregacionistas, linchamentos, discursos de inferiorização e uma série de dispositivos institucionais criados para garantir que a liberdade não significasse igualdade.

 

O medo branco se manifesta de formas diversas. Está na recusa em reconhecer o racismo como estrutural, na resistência a políticas de reparação histórica e no pânico moral diante da ascensão de vozes negras em espaços de poder. É ele que transforma demandas por equidade em "ameaças à ordem", que reage à ocupação de universidades e cargos de liderança por pessoas negras com discursos sobre "meritocracia" e "reversão do racismo". É o medo que, em sua forma mais crua, dispara gatilhos e promove assassinatos, justificando-os sob o pretexto da "defesa".

 

O que está em jogo não é apenas a manutenção de privilégios materiais, mas a preservação de uma identidade forjada na supremacia. O medo branco é, em última instância, o medo da retribuição, da justiça histórica, do colapso de um mundo em que o privilégio racial pode ser vivido sem culpa ou contestação.

 

No entanto, esse medo diz mais sobre quem o sente do que sobre aqueles que ele tenta conter. Ele projeta nas populações negras uma agressividade que não está nelas, mas no próprio imaginário branco. Ele pressupõe que, se os papéis fossem invertidos, os negros agiriam como os brancos agiram ao longo da história. Essa projeção revela uma consciência culpada, um reconhecimento inconsciente das injustiças cometidas.

 

O desafio, portanto, não é apenas expor esse medo, mas desarmá-lo. Porque ele não apenas aprisiona aqueles que o sentem, mas também alimenta as engrenagens do racismo, travando o avanço coletivo. O verdadeiro terror não é a ascensão da população negra; é o pavor de um mundo onde a justiça substitui o privilégio, onde a igualdade não pode mais ser adiada, onde o espelho da história reflita, sem distorções, aquilo que sempre se tentou esconder.

 

 

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