O lobo e a estepe

Crônicas | 2025 - FEVEREIRO - Corações em chamas: poesias e histórias de conexão | Manoel R. Leite
Publicado em 24 de Fevereiro de 2025 ás 10h 36min

Ele percorre aquela vastidão sem fim, um olhar atento e distante daqueles que só o tempo constrói. Solidão nos passos, solidão nos olhos. Se o olhar refletisse o que já presenciou, as experiências seria uma amalgama entre dores, odores e sabores do existir. O lobo sobrevive apesar da luta, sobrevive pela luta, todos os dias são assim. Independente do tempo toda luta é um contínuo redemoinho, que se aproxima e afasta mostrando a força avassaladora das batalhas.

Um alfa sempre será um alfa, mesmo afastado de seu posto. A natureza é e será sempre em sua essência inalterada, em visões superficiais parecem mudar, mas continua inalterada no seu cerne, no seu ser. Assim como a água do rio carrega o que será o sal do mar, assim são todas as espécies carregam em seu trajeto parte das experiências e interações que se tornam o mar. Mas o que poucos percebem é o percurso silenciosos e constante de se tornar rio novamente, nem todos fazem isso como deveria. Porém um verdadeiro alfa se não o fizer deixa um ciclo incompleto, aniquila parte de sua essência, e, tão prematuramente abre mão de seu legado. Aquele lobo cinzento, livre na estepe já passara de sua fase de rio, de mar e agora na solidão escaldante buscava ser rio novamente a fim de cumprir o ciclo primordial da vida.  

Em sua pelagem cicatrizes revelam sua jornada. Mas nem tudo é dor, algumas marcas quase que invisível mostram cuidados recebidos positivamente pela alcateia. Como todo lobo filhote protegido por todos, para que se torne forte e assuma seu papel dentro da alcateia. Crescera de maneira tranquila, rodeado por sabedorias ancestrais que muitos ignoram, mas que poucos as escutam. Ele fora um daqueles que escutara, ficava tempo a olhar e quando possível imitar os anciãos tão respeitados pelo grupo. Em seu pelo não mostra a marca, mas lá dentro bem próximo do coração carrega a lembrança de uma loba, que envolvia-o com o seu calor a proteção carinhosa em seu peito. Isso pendurou por anos, que parecem eternos, ela já partiu. Porém o calor ainda se encontra presente em seu peito.

Com os guerreiros aprendeu a misericórdia, presenciara e vivera tantas vezes em combate rivais que em disputas sangrentas. Afasta-se e deixa o pescoço a amostra como sinal de derrota, como se solicitasse o golpe fatal. Porém, o que ser via era a misericórdia e o fim da disputa, sabendo-se que a alcateia é mais importante do que quaisquer disputas individuais. Aquele olhar castanho acinzentado carregava diante de si a poeira da estrada que teria que percorrer. E, em seu sentir tudo aquilo que o fizera tornar-se tão grandioso, mesmo notando um novo desafio primordialmente significativo em torna-se “rio”, sabendo que tudo até agora o prepara para epitáfio a se realizar.

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