Durante o período Heian (Século XI), a tribo dos Kogane, habitava próximo às montanhas do Norte, na ilha de Hokkaido, a região mais fria do Japão. Eram tradicionais agricultores, mas possuíam uma capacidade guerreira aprimorada, herdada dos primeiros samurais, conhecidos como defensores das propriedades agrárias.
Mas o inverno eterno de Hokkaido não era uma condição natural, as vastas planícies cobertas de neve, florestas densas e lagos congelados criavam um cenário de desolação gélida. Eles viviam sob o domínio implacável da deusa Yuki-Onna, a “Mulher de Neve”, que congelava qualquer um que se atrevesse a desafiar seu reinado.
Ao longo da sua história, os Kogane eram conhecidos por sua bravura e desdém pela morte ao qual ditava seu modo de vida dos guerreiros da tribo, visto que para um samurai, a morte é mais honrosa que a sua rendição. Isso trazia muita desonra para o coração de Takeshi, um jovem samurai, primogênito do líder dos Kogane, inconformado com a situação de seu povo, e confrontava constantemente a forma passiva a toda aquela submissão.
- Que futuro teremos, se não tivermos liberdade? Bradava o guerreiro para seu pai e os outros líderes.
Numa tarde, sem apoio, buscou ajuda dos anciãos, para compreender como poderia mudar aquela situação e eles revelaram uma única esperança. Uma lenda perdida em um passado glorioso, um sacrifício ao dragão Ry?jin.
O velho Ezo, o ancião mais sábio, contou a ele que apenas um sacrifício de honra poderá salvar a tribo, já que o deus dragão protege os pescadores e aos agricultores, assim como os ancestrais samurais da tribo. Mas que esse sacrifício deveria ser feito somente pelo mais bravo dos guerreiros e não teria volta.
Desolado, tinha uma única coisa que confortava seu coração. Aiko, filha do líder dos agricultores da tribo e prometida de Takeshi. Era onde encontrava refúgio, no conforto de seu amor, e trocavam promessas de esperança e futuro juntos.
Muitas estações se passaram até que a deusa Yuki-Onna apareceu, no meio da vila, numa noite sem estrelas.
- Jovem samurai, o seu amor em meu domínio é uma afronta! Disse, antes de olhar para Aiko e lançar uma maldição, congelando-a em um sono eterno. - Sua raiva será a desonra sua tribo e a solidão para você! Continuou a deusa que sumiu em uma névoa de gelo e neve.
O inverno se intensificou com a ira de Yuki-Onna sobre a tribo. E os líderes não tinham mais o que fazer com temperaturas abaixo de 9?°C. Assim, desesperado e com a fúria dos samurais gritando dentro de si. Takeshi, se armou com a espada ancestral Kogarashi e foi abençoado pelos anciãos para, assim, partir para a sua jornada.
Olhando para a sua tribo, disse: - Prometo salvar Aiko e nosso povo desse inverno eterno! E partiu para enfrentar seu destino.
Por vários dias, enfrentou tempestades de neve e ventos cortantes, enquanto espíritos gelados tentavam desviá-lo soprando promessas de descanso e paz para seus ossos gelados. Mas Takeshi resistiu, sua coragem e amor por Aiko o impulsionava a superar cada obstáculo.
Após uma jornada árdua, Takeshi chegou aos pés do Monte Fubuki e encontrou o altar na caverna oculta de Ry?jin Shink?. As paredes de gelo brilhavam com uma luz etérea e no centro havia um lago congelado com uma imensa estátua de gelo do deus dragão.
Ao erguer sua espada para realizar o seppuku, ritual de morte dos samurais, Ry?jin, majestoso com suas escamas de cristal, ergueu-se diante de Takeshi.
- Por que você se sacrifica, jovem samurai? Perguntou o dragão.
Com lágrimas congeladas, Takeshi explica que está oferecendo sua vida para salvar Aiko e sua tribo e que Yuki-Onna não pode mais ser a soberana na região. O dragão, reconhecendo o amor e a coragem no coração do jovem samurai, aceitou o sacrifício.
Ao terminar o ritual, uma chama azul envolveu o corpo de Takeshi, consumindo-o e transformando-o em uma figura etérea de luz pura. Uma chama azul, expelida por Ry?jin, se espalhou pela caverna, se fundindo em uma armadura no corpo de Takeshi.
- Você deve enfrentar a Mulher de Neve, mas saiba que agora você é meu guerreiro e não mais dos Kogane! Exclamou o dragão, voltando a sua forma de estátua. Mas ainda sussurrou: - Você deve retornar para guardar meu repouso pela eternidade.
Takeshi saiu da caverna e foi ao encontro da deusa no alto do Monte Fubuki. Ao alcançar o pico, encontrou Yuki-Onna, cuja beleza gélida ocultava um poder devastador.
- Você veio me desafiar, guerreiro? Perguntou ela, com a voz fria como o vento cortante.
- Sim, deusa. Não temo mais a morte, já que morri pela liberdade do meu povo! - respondeu Takeshi, erguendo sua espada.
Foi travada uma batalha feroz. Yuki-Onna conjurou tempestades de neve, mas Takeshi, com coragem e determinação, desferiu golpes com sua espada sagrada, derretendo o gelo ao seu redor. Em um momento decisivo, ele atingiu Yuki-Onna, fazendo com que seu manto de neve começasse a se dissipar.
Ao mesmo tempo, um sol azulado começou a brilhar por Hokkaido, derretendo o gelo espesso e dissipando as tempestades de neve. Aiko despertou de sua maldição, mas ficou chocada com o preço pago para serem libertos. Ela e a tribo, pela primeira vez em séculos, viram a primavera começar a florescer. A tribo dos Kogane celebrou a chegada da primavera e a libertação de Aiko. Takeshi, agora uma figura de luz, observava de longe, sabendo que seu sacrifício havia cumprido sua promessa e trazido nova vida à sua terra.
Hokkaido, agora em harmonia, florescia sob a primavera, refletindo a coragem e o sacrifício de seu herói. Ao redor de uma fogueira, os anciões festejam e uma estrela brilhante no céu simbolizava a presença eterna de Takeshi.