O INCAUTO TELEGRAMA

Contos | Edson Bento
Publicado em 07 de Dezembro de 2022 ás 20h 53min

O INCAUTO TELEGRAMA 

  

Ainda me lembro como se fosse ontem, um dia chuvoso e com muito trabalho. 

11 de junho de 1.992, às vésperas do Dia dos Namorados, eu estava muito feliz, carteiro com a função de agente postal, recentemente admitido na empresa Correios. 

Ainda cumpria o período de experiência, quando isso aconteceu, um mal-entendido? Ou uma mera displicência. 

Adágio era um homem casado, alto, moreno, olhos castanhos claros e aparentando lá seus 40 anos, cabo da PM, amigos de todos e muito conhecido na pequena cidade de São Sebastião do Fidalgo.  

Valentina sua verdadeira esposa, loira de olhos verdes, tinha mais ou menos uns 25 anos, formada em medicina, mas, atualmente não trabalhava. Tinha cara de menina mimada, porém muito bonita como uma flor menina. 

Simão meu chefe imediato, extremamente um homem bom, dedicado aos Correios, com a dedicação de sempre fazia gestão como ninguém. 

Passava das 17 h, o dia chegando ao seu final, tempo nublado ainda caia uma chuvinha bem fraquinha, nada anormal. Nesta hora fechávamos as expedições que seguiriam o fluxo normal diariamente. 

Naqueles tempos os telegramas eram transmitidos e recebidos por via telex, uma máquina velha que hoje em dia são obsoletas, fora de uso na empresa. 

Além do mais com seus enunciados pouco legíveis deixavam certa dúvida na leitura, mas não é esta uma desculpa para o veredito. Portanto, fui eu o incumbido para o dito telegrama entregar. 

Em tão pouco tempo neste distrito, como eram chamados os bairros ou as áreas demarcadas para que o carteiro realizasse as tarefas diárias, eu já conhecia muito bem e sabia onde Adágio e sua linda esposa moravam. 

Foi aí que tudo aconteceu, o endereço da residência de Adágio era próximo sendo este a minha opção de entrega, pressa ou falta de atenção? Como sempre inimigas da perfeição. 

Tratava-se de um telegrama MP (mão própria), só poderia ser entregue ao destinatário, no caso o Senhor Adágio, como também no referido endereço. 

Quartel da Polícia Militar. 

Foi tudo tão rápido, chegando à residência de Adágio, sua esposa Valentina prontamente recebeu-me e, sem pestanejar foi logo assinando o comprovante de entrega, gentilmente agradeceu-me e dentro de poucos minutos aos Correios retornei. 

Entretanto, na hora de transmitir a confirmação de entrega ao remetente meu chefe percebeu que o nome do recebedor não era o próprio destinatário. 

Tarde demais, tudo já tinha acontecido, àquela altura da situação era aguardar a reclamação e torcer para não ser demitido. 

A noite foi longa, quase uma eternidade, perdi o sono era grande a ansiedade, pela manhã respirei fundo e pensei, seja o que Deus quiser, vou encarar os fatos e falar a verdade. 

Cheguei logo bem cedo e confiante, cabeça erguida e olhar no horizonte, bom dia a todos fui logo dizendo, mas por dentro a fadiga me consumia. Simão olhou-me com ar de reprovação e foi logo dizendo, tem alguém aí no escritório querendo esclarecer a confusão. 

Não me restou alternativa fui logo pedindo desculpas, aliás, o erro foi meu e eu sempre assumi as minhas culpas, coloquei-me à disposição para ajudar foi esta minha conduta. 

Simão também pediu desculpas em meu nome e ainda acrescentou: Meu carteiro é um ótimo funcionário, será advertido e poderá sofrer punição. 

Diante de tamanho incomodo fiquei totalmente sem ação, Adágio então disse pausadamente: você entregou para minha esposa um telegrama da minha amante e para piorar a situação o resultado do seu erro foi uma separação. 

Apesar dos pesares ele estava notadamente muito calmo e para minha felicidade enfatizou o seguinte: Não quero aqui prejudicá-lo, até porque nada mais poderá ser feito, minha esposa já foi embora e dentro de poucos dias estanciará outra diva naquele mesmo endereço. Cumprimentou o chefe e disse-me, muito cuidado, na próxima pode custar seu emprego. 

Este causo foi real e aconteceu comigo, deixando na minha unidade um Slogan que durou muito tempo, todos passaram a me chamar de “O destruidor de casamento”. 

Fim. 

  

Edbento!  

Comentários

Conto classificado em 2º lugar no concurso de Causos e Poesias, Correios Mato Grosso do Sul. Categoria Causos.

Edson Bento | 07/12/2022 ás 21:06 Responder Comentários

Parabéns pelo conto, muito bem elaborado! Prêmio merecido!

ENOQUE GABRIEL | 08/12/2022 ás 12:33 Responder Comentários

Parabéns pelo conto e reconhecimento .Que tens talento é inquestionável!

Silvia Lis | 08/12/2022 ás 16:47 Responder Comentários

Edson, parabéns! Muito bacana seu conto.

Romeu Donatti | 09/12/2022 ás 20:02 Responder Comentários

Uuaaauuu, valeu a pena né kkkk

Aparecida Ferreira Luis Galdino | 14/12/2022 ás 14:30 Responder Comentários
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