O Dedinho Furado
Um dia, o corpo resolveu levar seus membros para conhecer o mundo. Logo que saíram, os olhos ficaram deslumbrados com a beleza que viam. Os ouvidos também se admiravam com os sons que podiam ouvir, e a boca estava extasiada com os sabores que podia sentir. Eles compartilhavam entre si cada uma das descobertas, e o cérebro ficava radiante com tudo o que recebia.
O corpo continuou. Queria que seus membros soubessem quantas possibilidades havia no mundo. Os pés, conforme colocavam suas plantas no chão, se deslumbravam com a firmeza que encontravam. Assim, o corpo aproveitava para se comunicar com seus membros, enquanto descobriam as maravilhas do mundo. As mãos, com seus dedos curiosos, também queriam saber qual era a sensação das coisas do mundo.
Enquanto exploravam, o dedinho da mão esquerda quis olhar de pertinho algo que lhe chamou a atenção: era um cacto cheio de pontinhas. O que o dedinho não sabia era que aquelas pontas eram uma proteção. Ao encostar-se nele, sentiu uma dor tão forte que todo o corpo estremeceu, e a boca soltou um grito. Mais que depressa, o corpo foi procurar qual de seus membros havia se machucado. Os olhos, a boca, os ouvidos e os pés estavam bem. A mão direita também estava ilesa. Mas, ao olhar para a mão esquerda, encontrou o dedinho com um pequeno furinho bem perto do “olhinho”.
Sem hesitação, o corpo acolheu o dedinho, segurando-o bem perto do coração. Disse:
— Pessoal, precisamos interromper nossa expedição por um momento. Assim que ele melhorar, continuaremos juntos, buscando em sintonia as maravilhas que o mundo tem.
Quando chegaram ao repouso, alguns membros começaram a questionar:
— Por culpa do dedinho, vamos ter que esperar.
O corpo, porém, respondeu:
— E se fosse um de vocês? O dedinho também esperaria a sua recuperação. Somos um todo. Quando um se machuca, todos sofremos. Por menor que seja o furinho no dedinho, ele dói no corpo inteiro.
O coração, então, se manifestou:
— Cada um de nós é importante para o bom funcionamento do corpo. Não é “só” um furinho, se olharmos com os olhos do dedinho. Precisamos entender que cada um tem sua maneira de ser. Mas compartilhamos o mesmo espaço. Se alguém se machuca, precisamos estar prontos para ajudar, mesmo que, para nós, a dor pareça pequena. O dedinho não consegue viver fora do corpo, e por isso é necessário que o corpo inteiro sinta sua dor.
Não podemos ser indiferentes com os nossos semelhantes. Assim como os membros ocupam o mesmo corpo, todos nós compartilhamos o mesmo espaço. Quando alguém estiver ferido, devemos acolher sem criticar e buscar a melhor forma de ajudar. Assim, cada um poderá se recuperar e voltar a ocupar seu lugar, desbravando o mundo cheio de possibilidades.
Do mesmo modo que os membros pertencem ao corpo e dependem dele, nós também dependemos uns dos outros para vivermos em harmonia.
24/01/2025. Escritora: Rose Correia.