O chá da esperança

Contos | 2025 - JULHO - Noites de inverno: poemas contos e crônicas à beira do fogo | Isolti Cossetin
Publicado em 05 de Junho de 2025 ás 19h 52min

 O chá da esperança

Na pequena Vila do Cedro Azul, o inverno sempre chegava com uma calma serena, como se o tempo desacelerasse para que as pessoas pudessem escutar o som do próprio coração. As chaminés fumegavam, as janelas se embaçavam e os cachecóis multicoloridos enchiam as ruas de um silêncio acolhedor.

Olívia, uma senhora de cabelos prateados e olhos ternos, vivia sozinha numa casinha de madeira no alto da colina. Todos a conheciam por sua gentileza e por um chá que parecia curar até a tristeza mais escondida. Ninguém sabia a receita.  Alguns diziam que tinha flores secas de lavanda, outros juravam que ela sussurrava palavras de carinho à chaleira antes de servir.

Numa tarde gelada, com os galhos cobertos de geada, Olívia preparava uma nova infusão quando ouviu três batidas tímidas na porta. Era Bia, uma menina da vila, com olhos úmidos e as mãos frias.

— Vovó Olívia… meu cachorrinho se perdeu no bosque — disse, com a voz entrecortada.

Olívia a acolheu com um sorriso calmo, pegou uma xícara azul e serviu o chá fumegante. Enquanto Bia bebia, a senhora acendeu uma vela perfumada de canela e escreveu algo num pequeno envelope.

— Entregue isso ao vento, minha querida — disse, apontando para a varanda.

Bia, ainda sem entender, deixou o envelope no peitoril da janela. Um sopro gelado atravessou a varanda e levou o bilhete flutuando pelas árvores cobertas de neve.

Na manhã seguinte, bem cedinho, Bia ouviu latidos vindos do quintal. Lá estava seu cachorrinho, com o focinho coberto de gelo e os olhos brilhando de alegria.

Dizem que Olívia nunca revelou o segredo daquele chá, mas Bia cresceu acreditando que o ingrediente principal era algo que o inverno não podia congelar: esperança.

Desde então, todos os invernos, a casa de Olívia se enchia de visitantes: crianças, velhos, e até viajantes solitários  vinham em busca de uma xícara quente e de um lugar onde o frio do mundo parecia não ter permissão para entrar.

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