O CARTEIRO E O MORTO IMAGINÁRIO: CORRESPONDÊNCIAS DO ALÉM. 

Contos | Antologia Bernadete Crecêncio Laurindo e convidados: Encontros e desencontros | Edson Bento
Publicado em 02 de Setembro de 2024 ás 14h 04min

O CARTEIRO E O MORTO IMAGINÁRIO: 

CORRESPONDÊNCIAS DO ALÉM. 

 

Dizem que para morrer basta estar vivo, mas, eu já vi morto vivendo por muito tempo! Pelo menos na minha história ele tinha presença marcante, um perfeito correspondente ou mais tarde um morto imaginário! Eu, um carteiro dedicado, tantos anos de luta, profissional na labuta, nunca pensei em cair no conto do vigário! 

 

 Na década de 90, o trabalho era de segunda a sábado, só descansava aos domingos e feriados, isso quando não tinha que fazer horas extras, e como tarefa tinha que zerar o distrito, como dizia naquele tempo “passar o pano”, entregando todas as correspondências diariamente, isso me deixava realizado.  

 

Porém em um certo endereço, ainda me lembro muito bem, quase todos os dias tinha sempre uma correspondência para entregar, seja ela uma carta simples, uma fatura, um extrato bancário e muito dificilmente um telegrama ou algo que tivesse que comprovar a entrega, quando isso acontecia sempre as devolvia ao remetente por ausência do destinatário.  

 

Durante muito tempo isso tornou-se uma rotina, mas algo me intrigava por não encontrar naquela casa alguém que pudesse relatar o motivo da ausência, pensei em ter informações com a vizinhança, porém continuei depositando na caixa de correspondências toda aquela papelada.  

 

Certo dia alguém batia palmas quando cheguei, a curiosidade foi tão grande que então perguntei: O senhor procura por quem? Ele me respondeu: senhora Isabella, (esposa do finado Olegário), fiquei espantado ao ouvir aquele nome, pois, sabia de cor o nome do morador e por ali estar um agente funerário.  

Para minha surpresa surge uma senhora bonita, loira de olhos azuis, trajando uma camisola branca transparente, assina os papeis, pega minhas cartas, dá meia volta deixando-me, eu o agente boquiaberto com suas ancas. 

 

Desde este dia fiquei abilolado até o pescoço, pensava eu, neste angu tem caroço, mas, como carteiro não sabe da vida dos outros, como também não faz intriga, todos os dias batia palmas fazendo figa, era minha jogada só para ver se a loira aparecia na sacada, mesmo sem ter nada para assinar.  

O tempo passava e a loira não aparecia, eu, é claro insistia em querer vê-la, mas para minha alegria um certo dia a porta se abriu e para o meu espanto surge um velho de terno preto, dizendo: Olegário sou eu, senti calafrios, até hoje quando me lembro dá-me arrepios, fiquei paralisado e então perguntei: Finado Olegário? Ele me respondeu: não carteiro falecido é Olegário Junior meu filho querido. 

 

Só neste dia tive a curiosidade de ler o remetente, que assim dizia: De sua amada virtual, Estrela do Além! 

Quando conto este causo, todos pensão que é conversa para boi dormir, vejo em suas faces a vontade da minha cara rir, porém, repito o que disse anteriormente, carteiro pode até omitir a verdade, mas, todo carteiro é sincero e não mente! 

 

Edbento! 

 

Comentários

Fabuloso esse seu conto, poeta! Nota 10!

Lorde Égamo | 07/09/2024 ás 10:27 Responder Comentários
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