O carinho de minha mãe
Contos | Antologia Romeu Donatti e convidados - História de Escola | Bernadete Crecencio LaurindoPublicado em 03 de Julho de 2024 ás 10h 05min
Ela era afetuosa, sabia fazer o melhor cafuné; daquele cafuné que ela havia aprendido com sua mãe, a índia Joana.
Era atenção e preocupação por inteiro.
Um dia (eu já estava no terceiro ano escolar), ela me “aprontou” para ir à escola, penteou meus cabelos em cachos, formando-os um a um. Depois, me contemplando com meiguice, passou a mão pelo meu rosto, e disse:
- Como é linda! Que cabelo lindo!
“Uma das grandes alegrias que podemos ter, é quando alguém (num gesto de carinho), penteia os nossos cabelos.” (Do filme Cartas para Julieta).
Pedi a Bênção à minha mãe e fui para a escola, feliz, segura, amada. Ia saltitando, como sempre o fazia. Meus cabelos também, saltitando; meus cachinhos, eu os sentia no rosto, rindo comigo, respondendo aos meus risos. A alegria também saltitava comigo, saboreando as ondulações do vento.
Ao entrar na sala de aula, em rigorosa fila, sentei-me na carteira e, enquanto os últimos alunos entravam, conversei alguma coisa com a colega ao lado, quando a professora me gritou:
- Quem deu ordens para conversar, Bernadete? E ainda vem para a escola toda descabelada, parece que não tem um pente em casa!
Os colegas riram divertido.
Jamais contei isso à minha mãe...