Vivi de esperas, sonhos e brisas,
outrora a vida me era um jardim,
mas as flores que um dia foram vivas
murcharam num tempo sem fim.
Os dias arrastam-se, pálidos, frios,
sem cor, sem riso, sem ardentia,
cumpro as horas, cumpro os trilhos,
mas já não creio na poesia.
As manhãs são meras alvoradas,
as noites, sombras sem paixão,
e o coração, que outrora pulsava,
agora é músculo, não emoção.
Não espero, não temo, não sonho,
respiro apenas, sem encanto ou dor,
a vida tornou-se um véu tristonho,
um eco distante do que foi amor.