O CAMPONÊS E O MONGE
Cordel | Antologia Fátima Cordelista e convidados: Poemarte - Poesia e encantamento | Fátima CordelistaPublicado em 15 de Setembro de 2024 ás 16h 17min
O CAMPONÊS E O MONGE
Certa vez um camponês
Que sempre viveu da vinha
Devido uma grande seca
Sua plantação definha
Precisou pedir ajuda
Na propriedade vizinha.
Como já não suportava
A fome que lhe doía
Foi buscar alguma coisa
Pois há dias não comia
Sem chuva a terra não brota
Apenas o sol ardia.
Então ele foi bater
À porta de um monastério
O monge que ali estava
Percebeu ser algo sério
Então deu-lhe pão e vinho
E lhe falou sem mistério.
Tudo que estava passando
Dias sem se alimentar
O sol forte lhe queimando
Não tinha como plantar
Sem chuva não há semente
Que consiga germinar.
O monge ouviu o homem
E permaneceu calado
Ficou muito pensativo
Até emocionado
Daquele dia em diante
Foi o camponês cuidado.
Com o tempo veio a chuva
Já os campos verdejantes
As plantações ressurgiam
Parrerais exuberantes
Do camponês nem notícias
Não retornou como antes
Certo dia o monge ouviu
Bater forte no portão
O monge veio abrir
Qual não foi sua emoção
O camponês lhe sorriu
Tomado de gratidão.
Disse o camponês ao monge
- trouxe isso pra você!
Pôs-lhe nas mãos lindas uvas
Que acabara de colher
-São todas de meu vinhedo
Para lhe agradecer!
O monge ficou perplexo
Não escondeu a surpresa
Nunca ganhara um presente
Vindo assim da natureza
As uvas lindas, perfeitas
Realmente uma beleza
O monge meio sem jeito
Recebeu esse presente
Estático admirando
Disse imediatamente
Vou levá-las ao professor
Ele ficará contente.
O camponês disse: -Não!
As uvas são para você
Sempre que eu bati à porta
Você veio me atender
Servia um copo de vinho
Dava-me pão para comer
Então o monge ficou
Muito emocionado
Passou a manhã inteira
Com as uvas admirado
À tarde as levou ao mestre
Como havia planejado.
Quando o mestre recebeu
Aquelas uvas perfeitas
Percebeu serem cuidadas
Por pessoas satisfeitas
Cultivadas com carinho
Para esmeradas colheitas,
Como ali no monastério
Havia um irmão doente
Pensou na sua alegria
Ao ganhá-las de presente
Foi logo levar as uvas
Para deixa-lo contente
Aquele irmão acamado
Ficou cheio de emoção
Recebeu as lindas uvas
Com lágrimas de gratidão
Colocou-as sobra a mesa
Esperando a refeição.
Enquanto ele aguardava
Pensava no cozinheiro
Que lhe levava comida
Sempre feliz, prazenteiro
Ele sim mereceria
Esse gesto cavalheiro.
Absorto em pensamentos
Ouviu a porta bater
Era o irmão cozinheiro
Lhe chamando pra comer
Então ele aproveitou
Deu-lhe as uvas com prazer.
O cozinheiro coitado
Foi tomado pelo susto
Pois nunca havia visto
Uvas tão lindas, sem custo
Com olhos arregalados
Disse: - Não mereço os frutos.
Então o monge acamado
Passou a agradecer
Enumerando as vezes
Que ele lhe deu de comer
E afirmou entre lágrimas
Você fez por merecer.
Por sua vez o cozinheiro
Retirou-se a saltitar
Pois nunca havia ganhado
Algo tão peculiar
Sorridente, emocionado
Admirado a pensar.
Quem merece este presente
Das mãos do Pai Criador
É o nosso monge mestre
Que ensina com amor
Saberá apreciar
Destas uvas seu sabor.
Seguiu pensando consigo
Deus é tão maravilhoso
Que fez nascer as sementes
E fruto assim tão gostoso
O mestre vai entender
Presente tão valioso.
Entrou na sala do mestre
Irradiando alegria
E disse: - trouxe essas uvas
Para alegrar o seu dia
O monge mestre sorriu
Lhe mostrando simpatia.
Ao ouvir estas palavras
O mestre ficou contente
Aquelas uvas seriam
Um elegante presente
Daria elas a alguém
Pensou no seu assistente
Tem aqui no monastério
Um jovem tão prestativo
Que desde que aqui chegou
Fez os dias mais festivos
Darei a ele estas uvas
Como um gesto positivo.
Chamou o jovem na sala
Deu-lhe as uvas de presente
Disse saiba apreciar
As dádivas do Onipotente
Deus faz muitas maravilhas
Entre elas está a gente
Por um instante o rapaz
Esteve paralisado
Admirando a beleza
Dos frutos que lhe foi dado
E num relance pensou
Está sendo abençoado.
Ali naquele momento
Lembrou da situação
Que o trouxe até ali
E tomou uma decisão
Vou levar estas belezas
Ao monge lá do portão.
Saiu correndo no pátio
Exultante de alegria
O monge levou um susto
E o jovem com euforia
Disse eu trouxe estas uvas
Para alegrar o seu dia.
E complementou dizendo
Foi a sua caridade
De me abrir o portão
Para esta comunidade
Hoje aqui vivo feliz
Junto com essa irmandade.
O senhor fica sozinho
No portão o dia inteiro
Sempre com largo sorriso
Para qualquer forasteiro
Divide seu alimento
Com quem não tenha dinheiro.
É o senhor que merece
As dádivas do Criador
Pois cada dia que passa
Reverbera seu Amor
Sua vida é um exemplo
Sou seu admirador.
O monge consternado
Ao jovem agradeceu
Lembrou-se do camponês
E do que aconteceu
Aquelas uvas voltaram
Para quem as mereceu.
E assim é nossa vida
Tudo que vai voltará
Seja mais cedo ou mais tarde
Você as receberá
Por isso pratique o bem
E não se arrependerá.
A vida é semeadura
Você escolhe a semente
Plante o que tiver vontade
Mas lembre que de repente
A colheita é necessária
Tudo na mesma vertente.
Se algum momento da vida
Você praticou o bem
Dando água a quem tem sede
Ou ajudando alguém
Irás receber em dobro
Se fizer o mal também.
Conforme o que foi escrito
O monge era um benfeitor
Quando recebeu as uvas
Não se achou merecedor
Foram doadas à muitas
E as mãos dele retornou.
Quando uma benção é sua
Não vai para outra pessoa
Deus não dorme nem cochila
Ele cura, ama e perdoa
Se você não acredita
Não fique falando à toa.